“Se trocarmos a guerra pela vergonha depois colheremos a vergonha e a guerra”. W. Churchill
Alexandre Cunha – antropólogo *
Estamos, o mundo todo, despreparados para o enfrentamento desta pandemia específica, o Corona V-19, pois é um vírus novo, que pela primeira vez ataca a espécie humana. Então, não se conhece a patogeneidade, nunca foi descrita e até o diagnóstico e evolução da doença é difícil.
Há pouco, homem de 70 anos, positivo mas sem comorbidade e sintomas brandos, foi encaminhado para casa, morreu. Então, deve-se internar todos os positivos maiores de 60 anos ou só os graves? A arte médica ainda não firmou esse protocolo. Assim, todas as decisões de saúde pública e individuais, em minha opinião, devem ter por base esse ineditismo, o emergencial da pandemia.
A única epidemia equivalente, mais recente, foi a espanhola, de 1918. Mas, naquela época, nem a concepção higienista era consenso na medicina. Morreram de 50 a 100 milhões de pessoas. Em Belém, famílias inteiras foram dizimadas. Carroças abarrotadas de mortos iam ao cemitério.
Assim, como não temos remédios ou vacina, nem sabemos ainda qual a evolução da doença. A medida científica e razoável de cada um é o isolamento que deteve outras epidemias atuais, como ebola, sars, de não serem pandêmicos. Então, quanto maiores as medidas higiênicas individuais e sociais de “ficar em casa”, pois 80% da contaminação vem de assintomáticos.
Com isso, evitaremos o que já está visível na Itália e Espanha, de falência dos sistemas de saúde e até dos necrotérios e cemitérios, que ainda não chegaram ao pico, que passaremos também no Brasil e em Belém, pois dado o ineditismo do vírus o rebanho humano terá que desenvolver imunidade a este coronavírus.
Mas, até lá, o número de mortes, que haverá, será menor e não tão dantesco, como nos lugares onde não houve prevenção individual e coletiva. Algumas categorias estarão na linha de frente de combate ao vírus, são os ligados à produção, circulação e saúde. Muitos destes profissionais estarão em risco e morrerão.
O confinamento ou a mortandade também paralisarão a atividade econômica local e mundial. Fala-se em recessão de 4%, é aí que o Estado, que é o poder organizado da sociedade, deve intervir na área da saúde, na social e na econômica para evitar o máximo de mortes e sofrimentos, anomia social e a menor recessão possível para que, controlado o vírus, possamos recuperar o bem estar da sociedade.
A quem cabe manter a economia nacional é o poder do estado e de também mobilizar a sociedade para vencer este inédito vírus patógeno, e não subestimá-lo, logo quando ocorrem 100 mil casos diários no mundo. A luta só está começando. Resguardemo-nos e cobremos do Estado e de seus dirigentes os seus deveres.
W. Churchill: “se trocarmos a guerra pela vergonha depois colheremos a vergonha e a guerra”
Ou a morte e a depressão.
- Manoel Alexandre Cunha é antropólogo e professor da UFPA
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