O destino de 500 animais nas mãos do governo. E aí, vai se omitir? |
É muito fácil o Poder Público fechar um abrigo de animais recolhidos das ruas por gente que ainda se sensibiliza com o drama de cães, gatos e outras espécies de animais maltratados por seus donos, torturados, violentados até sexualmente e depois abandonados.
Difícil, muito difícil, é o próprio Poder Público fazer o que lhe cabe como gestor: encontrar uma solução e ele próprio abrigar os animais abandonados, tratando-os com dignidade. Se os humanos sem lar e sem perspectivas que vivem pelas ruas são tratados com total descaso pelos governos, o que dizer dos animais de quatro patas? Tome-se o exemplo perverso do que está acontecendo com o abrigo Au Family, mantido pela senhora Raquel Viana, na ilha de Outeiro, e estaremos diante da constatação de que Estado e Município lavam as mãos para os problemas que deveriam resolver.
Com cerca de 500 animais recolhidos por ela num local tido como inadequado e perturbador da vizinhança, pelos constante latidos e miados dos bichanos, o que fazem as autoridades sanitárias e gestores da coisa pública? Condenam o abrigo e dão prazo para que ele seja desativado imediatamente.
Fácil, extremamente fácil, lavrar a sentença condenatória do destino desses animais – as ruas, novamente, ou quem sabe o forno crematório da solução final do problema -, não é mesmo? Se não há lugar para tantos animais no Centro de Zoonoses, na Augusto Montenegro, também localizado em área urbana como o abrigo particular de Outeiro, mas nem por isso também condenado pelos governantes que o administram, o que fazer?
As respostas precisam ser oferecidas nas próximas horas, porque estamos diante de um grave problema de saúde pública. Os governantes não podem fugir de suas responsabilidades, omitindo-se. Afinal, para que servem os governos, se eles demonstram, em casos como este, que não servem para nada?
Vejam a nota postada nas redes sociais por dona Raquel Viana, sobre o drama vivido por ela e seus animais no abrigo Au Family:
coração de mãe. É assim que nos sentimos ao voltar pra casa. Depois de
tantos anos de luta, de tantos animais retirados das ruas, salvos de
tantas situações de abandonos, riscos, maus tratos, atropelamentos,
espancamentos, larvas de moscas, violências, até sexuais, hoje a Dema,
laudou o abrigo e a proprietária Raquel Viana como praticante de maus
tratos. Como vocês podem ver no documento que recebemos, à médio e
longo prazo, devemos esvaziar o abrigo.
Não temos pra onde levar
tantos animais. A realidade é que, com todas as campanhas que fazemos,
com todos os pedidos de ajuda nas redes sociais, as adoções não são
suficientes. A ajuda não chega como deveria chegar. O que fazer? Abrir
as portas? Devolver todos às ruas? Pedir à prefeitura de Belém para
que assuma todos? O CCZ está lotado. Mal dá conta dos que vivem lá,
sabemos da triste realidade que eles também vivem.
O animal de produção
citado no texto, é o Ozzy, porco paraplégico que veio de Santa Cruz do Arari, e que após sofrer uma paulada nas costas e não morrer, ficou
sem movimentar-se da cintura pra baixo. Veio junto com os animais de
lá, chegou no abrigo pequeno, recebeu uma cadeira de rodas de
presente, logo cresceu, aprendeu a latir com os nossos cachorros, a
receber carinho, e infelizmente ou felizmente ninguém teve coragem de
abater pra virar comida.
Não temos um espaço adequado pra ele,
precisamos arranjar um sítio ou fazenda pra que ele possa ir, com a
garantia que ele possa ter uma vida tranquila e nunca virar comida de
ninguém. Mas e os nossos mais de 500 cães e gatos? Quem vai garantir
lares pra eles? Alguém pode responder?
E o processo de crime ambiental
que a Raquel irá responder alguém pode nos responder como vai ficar? E
os demais abrigos de Belém, com situações mais precárias que a nossa,
também passarão por tudo isso Dema? Vão atrás de todo mundo? Hoje o
abrigo fecha as portas e encerra suas atividades.
Não nos procurem mais
pra resgatar nenhum animal, pedir ajuda pra nada. Não podemos mais
ajudar ninguém. Precisamos esvaziar nosso lar com o coração partido”.
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