Sargento Silva Lima estava ameaçado, sabia que iria morrer, pediu socorro, mas ninguém ouviu
O Ministério Público Militar do Pará abriu investigação para apurar se o sargento da Polícia Militar, Henrique da Silva Lima, assassinado a tiros de fuzil, no último domingo (12), na frente da casa dele, em Marituba, na Região Metropolitana de Belém, teve a segurança negligenciada pelo comando do batalhão onde ele servia.
A informação foi confirmada pelo promotor de Justiça Militar, Armando Brasil, que destacou que todas as circunstâncias da morte do policial serão apuradas. Além do sargento, uma mulher que estava com ele na frente da residência também foi baleada e morreu na segunda-feira (13).
Em grupos de mensagens por aplicativos, em dois áudios divulgados após a morte do sargento, que agora ecoam do túmulo, Silva Lima afirma para um superior que está sendo ameaçado de morte pelo Comando Vermelho e diz que está sem a sua arma e o colete à prova de balas.
Em conversa com o superior, que seria um coronel da PM, cujo nome não é citado, o sargento diz o seguinte:
“Eu não sei como é conversa de coronel para coronel, porque eu falei dessa minha situação para ele, antes dessa ameaça do Hélio 41. Ele disse: ‘Ah, vou analisar e depois te dou a resposta’. Mas pelo que eu vi, comando, acho que ele quer pagar para ver: ‘Ah, se ele sobreviver, eu devolvo o armamento para ele’. Eu não sei se de coronel para coronel, conversando… ‘Olha, tá sabendo que alguém do teu batalhão tá sendo ameaçado pelo chefe do Comando Vermelho? E que eu soube agora que ele está sem o kit policial dele. O que está faltando para devolver? Aí não sei como funciona de um coronel para outro, se na conversa faz o outro devolver”.
Em outro áudio, o sargento continua a conversa com o superior:
“Meu Conselho de Disciplina já foi encerrado, graças a Deus eu fui absolvido de todas acusações e estou até com o relatório aqui, do dia 9 de fevereiro… eu não sei o que aconteceu… essa burocracia… que ainda não cantou em boletim geral. E estou recebendo essas ameaças, já tinha recebido outras na semana passada. Fiz a ocorrência, anexei o relatório da disciplina que eu fui absolvido, fiz uma parte para o coronel solicitando a devolução do meu kit policial”.
O áudio com a voz do sargento prossegue: O que acontece, comando? Eu tô sem o meu kit policial desde julho e literalmente é uma ameaça em cima da outra, em cima da outra, em cima da outra. Repassei para o coronel ainda essa semana, da ameaça da semana passada… que vagabundo bateu foto minha e ate mandou pra mim, que tá me monitorando”.
“Todo mundo sabe que vão me matar”
Diz ainda o sargento no áudio: “A alegação que me disseram é só quando cantar em B.G. Quer dizer que todo mundo sabe que vão me matar, todo mundo sabe que eu estou sendo ameaçado, o comandante sabe e vai esperar eu morrer pra depois dizer: ‘Não, tá aqui, é o kit policia dele”.
“Porque o grande problema, comando, como o senhor conhece o coronel da inteligência, não sei qual é o nível de coronel para coronel, conversando, na verdade, é, repassar essa situação: ‘O guerreiro está sendo ameaçado pelo chefe do Comando Vermelho no Estado do Pará e ainda está sem o kit policial dele, porque ele respondeu uma bronca, foi absolvido, mas ainda não cantou em boletim geral… e não querem entregar a arma dele, nem a arma e nem o colete”’.
Por fim, o sargento faz mais um desabafo: “Fica complicado, comando. Tô sendo ameaçado, o comando sabe disso, o comando do meu batalhão e parece que ele não está dando a mínima, ou ele não está acreditando ou acha que estou inventando essa história, mas o negócio tá sério e não estão dando a mínima para a minha vida. Estou quase achando que querem que me mate logo para resolver o problema”
Ouça os áudios: