Desde que entrou em vigor a não obrigatoriedade de sacolas plásticas de graça nos grandes supermercados de Belém, não se fala outra coisa nas filas antes dos pagamentos das compras. A rejeição à tentativa de melhoria do meio ambiente através de pôr menos sacolas no dia a dia, era esperada pois tudo no começo causa um choque nos costumes cristalizados por décadas dentro da consciência geral da sociedade.
Mas não se esperava tanto, como se o ato fosse uma espécie de “Nego Di de Belém” – participante que bateu recorde de rejeição no BBB.
Logo no primeiro dia de validade da lei, fui até um dos supermercados e percebi logo que as filas estavam grandes para o horário e que havia uma conversa generalizada. Era um dizendo que fazia parte de um grande programa chinês (sempre a China, coitada), era outro falando que os valores de sacolas iriam para o bolso de políticos, enfim, era tanta teoria que não via a hora de alguém citar os Iluminates ou a Nasa, Lula ou Bolsonaro.
Até a tradicional tiazona que puxa conversa para falar mal da roupa curta da loirona que está na outra fila, mudara a temática dizendo que ia exigir os 2 centavos de troco na compra das sacolas. Assim o fez, o barraco foi grande. Ela disse que se não tivesse o troco, iria pagar só 5 centavos, mas a caixa não aceitou o valor. O problema só foi resolvido com a chegada da segurança e gerência.
Percebi que o momento de pagar as compras virou um barril de pólvora, principalmente por conta daquelas pessoas que adoram gritar com pessoas como caixas de supermercados, como se a culpa fosse deles. Um senhor chegou a dizer para uma das moças: “tu também é pobre, vai aceitar ficar desviando dinheiro pro teu patrão milionário?!”. Ele queria o quê? A revolução proletariada das sacolas? Até daria um bom tópico nos livros de história, fato.
A reclamação não se dá apenas porque os valores variam de 8 até 80 centavos – literalmente, 8 ou 80 haha – mas também porque na maioria das casas as sacolas de supermercado servem para forrar a lixeira, para deslocar o mato e até transportar o rato morto. Então, é um sentimento para além do econômico.
A rejeição também leva em consideração os preços fustigantes dos produtos básicos nos supermercados, fazendo o povo pensar que, apesar de pequeno, é um gasto a mais em meio a tanta injustiça nos preços. Fora a galera das pipas que vai ter que se virar, já não bastasse as raras sacolas da Yamada, que no mundo dos pipeiros é a mais charmosa e nostálgica.
A primeira vez que tive que pagar por uma sacola nas compras foi em Buenos Aires. Na hora, também me deu um choque. Aliás, a moça do caixa não colocava as compras dentro do saco, era um serviço para quem compra, ou seja, não há a figura do embalador. O choque depois ganhou compreensão na medida que compreendi que é uma política integrada à sustentabilidade.
É assim, no começo vai ser Nego Di, depois vira Gil e Sarah. Em outras palavras, no começo o choque, a rejeição; depois, a compreensão e a mudança de paradigma.
Discussion about this post