Mais um caso de corrupção lança sombras sobre a já precária assistência à saúde indígena no Brasil. No Pará, onde comunidades indígenas enfrentam abandono crônico pelo poder público, denúncias de fraudes com verbas destinadas à alimentação de pacientes indígenas chocam pela ousadia e crueldade. É uma lástima que, em meio à luta por dignidade e sobrevivência, os escassos recursos enviados para essas populações sejam alvos de esquemas tão descarados.
Nesta segunda-feira (14), o Ministério Público Federal (MPF) anunciou a abertura de duas investigações para apurar suspeitas de desvios no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Kayapó, sediado em Redenção, sudeste do estado.
As denúncias apontam para o coordenador do Dsei, acusado de manipular planilhas de gastos para beneficiar indevidamente uma empresa responsável pelo fornecimento de alimentos às Casas de Saúde Indígena (Casais). Áudios que viralizaram nas redes sociais expõem o suposto esquema, revelando como a ganância pode corroer até mesmo os esforços para garantir o básico a quem mais precisa.
O MPF já instaurou dois procedimentos: um focado no contrato de fornecimento de alimentação e outro para revisar a legalidade de todos os contratos vigentes e em processo de homologação no Dsei Kayapó. As investigações, registradas sob os números 1.23.001.000415/2025-80 e 1.23.001.000416/2025-24, correm paralelamente à apuração criminal, indicando que o caso pode revelar um esquema ainda mais amplo.
A situação é revoltante. Enquanto indígenas do Pará enfrentam filas, falta de medicamentos e infraestrutura precária, os recursos que poderiam aliviar seu sofrimento parecem evaporar em esquemas que enriquecem poucos.
A saúde indígena, já historicamente negligenciada, não pode continuar refém de práticas que transformam esperança em desilusão. Que as investigações do MPF tragam justiça e sirvam de alerta: o descaso com os povos originários precisa acabar.