Listei aqui, os filmes destaques do ano, novamente, sem ranqueá-los. Essa lista se limita a filmes que foram lançados por aqui em 2019.
2019 foi um ano surpreendente, comparado às paisagens não muito empolgante dos últimos anos. Duas gerações de diretores se destacaram, sendo na sua maioria, a geração da década de 90 e de outro lado a geração de 70, onde o olhar para o passado é um tema que se destaca por inúmeras vias, seja em representações detalhistas de época, na via pessoal de seus personagens ou até mesmo como uma reflexão da própria filmografia.
Era Uma Vez em… Hollywood de Quentin Tarantino
O melhor trabalho de Tarantino desta década se mostra também o filme que mais amplifica os fetiches do diretor e, ao mesmo tempo, o mais leve e isso é muito bom. Essa leveza traz a dose certa para uma fabula nostálgica, erguida sobre um dos momentos mais tensos de Hollywood: a morte da atriz Sharon Tate.
Seus dois últimos filmes se perdem na falta de unidade, boas cenas que parecem ter sido pensadas separadamente, e talvez, não seja uma coincidência o fato de que são os únicos não editados por Sally Menke, que faleceu em 2010 (pretendo no futuro falar mais sobre isso). Era Uma Vez em… Hollywood se beneficia dessa falta de unidade quando transforma a atmosfera da Los Angeles dos anos 60 em personagem, o bromance do ator em crise Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu duble Cliff Booth (Brad Pitt) atravessa essa paisagem às portas do fim, sem nos negar uma boa e velha catarse Tarantinesca em seu climax.
Ad Astra – Rumo às Estrelas de James Gray
James Gray inverte o conflito entre pai e filho de seu filme anterior Z: A Cidade Perdida (2016). O filme ilustra bem por que ele é um dos maiores diretores em atividade, ao passo em que transforma sua ficção cientifica em um mergulho na escuridão que seu protagonista carrega. Ad Astra é um belíssimo filme sobre solidão. (Eu falei um pouco sobre o filme aqui)
Ford vs Ferrari de James Mangold
Ford vs Ferrari poderia se chamar Shelby & Miles, pois, na verdade, o filme se centra na obstinação desses dois artistas, o designer automobilístico Carroll Shelby (Matt Damon) e o piloto britânico Ken Miles (Christian Bale) na busca por construir carros mais velozes. Artistas que fazem do oficio sua arte e que encontraram os verdadeiros obstáculos fora das pistas, onde o ego e o dinheiro são quem ditam a velocidade dos acontecimentos.
Parasita de Bong Joon-ho
Bong Joon-ho continua a mesclar como ninguém uma variedade de gêneros cinematográficos e com isso nublar os limites entre eles. Assim como temas presentes em outros de seus filmes retornam, como em O Hospedeiro (2006), no qual temos uma família unida contra uma ameaça assustadora, em Parasita há um monstro ainda mais implacável que é o abismo existente na luta de classes. Tema já visto em Expresso do Amanhã (2013), onde a horizontalidade dos corredores do trem é substituídos pelo verticalismo das escadas, que acentuam a separação dos grupos em camadas, e o mais importante, sem usar de nem um tipo maniqueísmo moral para tratar do assunto.
Vidro de M. Night Shyamalan
Shyamalan conclui sua trilogia de forma satisfatória, sua abordagem sobre os super-heróis continua a ser algo inigualável. O filme se recusa a dar o que um público acostumado com adaptações de quadrinhos espera, e faz isso de forma provocativa. Em troca, ele vai retornar ao tema tão precioso à sua obra, que é a crença no fantástico. Além disso, ele não deixa de nos lembrar do seu lugar nesses 19 anos em que os super-heróis dominaram o cinema – e o próximo filme da lista não existiria se não fosse por Corpo Fechado (2000).
Coringa de Todd Phillips
A dupla Todd Phillips e Joaquin Phoenix seguiram a trilha pouco explorada da qualidade cinematográfica acima do fetiche nerd e fizeram um dos melhores filmes que o gênero viu nos últimos 20 anos. Curiosamente o que pegou todo mundo de surpresa foi, como em Logan (2017), o fato de o filme ter algo a dizer sobre a natureza humana, além de tudo, com uma atuação dramática inimaginável, principalmente quando se fala de adaptar personagens dos quadrinhos. (Eu falei um pouco sobre o filme aqui)
O Irlandês de Martin Scorsese
Semelhante à jornada de seu protagonista, Martin Scorsese volta até suas obras mais marcantes, quando acompanhamos Frank Sheeran (Robert De Niro) revisitar seu passado como matador, as lembranças do personagem se misturam às lembranças que temos da obra de Scorsese. A máscara digital que os atores usam para rejuvenesce-los é um lembrete de que, por mais que todos estejam revisitando o passado, é no presente que estamos e com ele, cada dia mais próximos do nosso fim. (Eu falei um pouco sobre o filme aqui)
Em Trânsito, de Christian Petzold
Christian Petzold constrói sua história em um período indeterminado, destacado pela atmosfera extremamente opressora, onde os personagens seguem carregados por um senso de deslocamento, todos parecem mergulhados na vontade de fugir e, em meio a isso, o amor surge como a única e verdadeira fuga possível de um mundo claustrofóbico.
Dor e Glória, de Pedro Almodóvar
O reencontro entre Almodóvar e Antônio Bandeiras, além de carregar fortes doses autobiográficas do diretor, oferece ternura e beleza em meio aos fantasmas acumulados no decorrer de uma vida. Assim como outros dessa lista é um filme sobre se reconciliar com o passado. O tempo e a vulnerabilidade que o corpo adquire com o passar dos anos são ótimos remédios para todas as magoas.
A Mula, de Clint Eastwood
Clint Eastwood investiga a américa em seus últimos cinco filmes, que são equivocamente interpretados como patrióticos, pois tratavam de figuras consideradas heroicas. As sutilezas da estrutura clássica de seu cinema vêm criando um distanciamento com o público, que muitas vezes, não percebe o olhar crítico do diretor. O filme se baseia na história real de um homem de 87, responsável pelo transporte de drogas para o cartel do tráfico mexicano. Clint traça paralelos com a própria carreira e acentua isso ao colocar sua filha para representar a filha negligenciada pelo protagonista, além de analisar a própria carreira mais uma vez quando demonstra, de forma honesta, suas falhas em meio a um mundo em mudança.
Maiores frustrações do ano – aqueles que poderiam dar e alguma coisa, mas não deram:
Bacurau, de Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles.
Nós, de Jordan Peele.
Os Mortos Não Morrem, de Jim Jarmusch.
Sequencias desnecessárias:
Star Wars: A Ascensão Skywalker, de J. J. Abrams.
It – Capítulo Dois, de Andy Muschietti.
Zumbilândia: Atire Duas Vezes,de Ruben Fleischer.
As Super-Frustrações:
Capitã Marvel, de Anna Boden, Ryan Fleck.
Shazam!, de David F. Sandberg.
X-Men: Fênix Negra, de Simon Kinberg.
Alita: Anjo de Combate, de Robert Rodriguez.
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