Rodrigo Augusto Prando – pesquisador *
Há anos tenho estudado o marketing político e o marketing eleitoral. Não por desejo de ser “marqueteiro”, mas sim para entender parte dos meandros das campanhas e da política nos tempos que correm.
Em termos bem sintéticos, panorâmico mesmo, o marketing político “é um conjunto de ações e estratégias que tem como objetivo a construção de imagem e reputação política a longo prazo”; marketing eleitoral, por sua vez, “é uma estratégia de curto prazo, no período de campanha eleitoral, com o objetivo de divulgar cargo, propostas e número de votação do candidato”; e, por fim, “o marketing eleitoral não sobrevive sem o marketing político”.
Todas estas definições, precisas, estão num perfil – no Twitter – chamado @estrategiaparlamentar, de Gisele Meter, com a qual tive oportunidade, no início da pandemia, de trocar ideias durante uma live. Sugiro, assim, para os que gostam do tema e, mais ainda, para políticos que acompanhem o perfil que, em suas postagens, dá dicas preciosas.
Muitos políticos já desenvolveram um marketing político bem antes de concorrerem a cargos eletivos. Já comunicavam uma imagem construída e consolidada que lhes davam reputação anteriormente à entrada na vida política. Claro que, profissionalizando a aérea, os especialistas em marketing, munidos de pesquisas qualitativas e quantitativas, e muita experiência e cases nacionais e internacionais, dominaram o cenário e tornaram-se praticamente imprescindíveis aos que pleiteiam a vitória nas eleições.
Contudo, muitos candidatos acreditam que o marketing eleitoral é suficiente e desprezam ou desconhecem a importância da manutenção de um marketing político ao longo do tempo. Muitas vezes, não se sabe se a comunicação de um candidato é espontânea, por conta de seu tirocínio e carisma, ou se foi, previamente, construída pelos especialistas. Interessante, sempre, é prestar atenção a alguns aspectos do fenômeno.
Em 2018, poucos acreditavam na vitória de Jair Bolsonaro, eu inclusive. Talvez, nem ele próprio. Um fato chamou minha atenção: enquanto os adversários de Bolsonaro, já durante a campanha, montavam as equipes de estratégia para as redes sociais, Bolsonaro era chamado de “mito” nas redes há, sei lá, uns dois anos. Outro fato, este recente, foi, após a derrota para Bruno Covas, um vídeo de Boulos no Twitter. O vídeo tem 29 segundos, com 4.588 comentários, 10 mil retweets, 112 mil curtidas e 1,3 milhões de visualizações.
O vídeo traz Boulos lavando louça e foi, provavelmente, gravado, em casa, por sua esposa. Enquanto, alegremente, lava a louça, ouvindo e cantando a música de Gilberto Gil, “Andar com fé”. A voz feminina vai chegando perto dele e afirma: “Cabô [sic] a eleição, mas a louça não acaba não, né, Gui?”. E Boulos responde, rindo: “A louça nunca. Até com Covid, lavo louça nessa casa”. E ela continua: “Mas ele tá bem, viu, tá bem!”. E, Boulos, sorrindo e cantando, termina: “Com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”.
Este vídeo de Boulos comunica muita coisa. Sua casa, de classe média; sua roupa; seu bom humor; a divisão do trabalho doméstico (numa sociedade assaz machista); a música de Gil; sua condição de saúde estando contaminado pelo coronavírus; e, mais importante, seu estado de espírito após a derrota como candidato a prefeito de São Paulo. O vídeo, por si só, é um curso inteiro de marketing político e, tenho certeza, material para muitos posts de Gisele Meter!
* Rodrigo Augusto Prando é Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp, FCL.
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