Sérgio Mutran, conhecido proprietário de uma fazenda em Marabá, no sudeste do Pará, encontra-se profundamente desiludido diante da persistente insegurança jurídica que assola suas terras e impede sua capacidade de produção e geração de empregos na região. Nos últimos anos, as terras dele foram alvo de invasões inúmeras vezes, roubos de pertences e de gato, morte de animais e ameaças de assassinato de seus empregados. Porém, o atual cenário se revela como o mais grave de todos.
Para se ter uma noção dos crimes sucessivos praticados na área, na última terça-feira, 2, uma nova ocorrência policial foi registrada sobre ataques no retiro João Lobo, que faz parte do Complexo Mutamba. O gerente José Domiciano e outro funcionário foram surpreendidos por oito homens armados, que emergiram repentinamente do meio do matagal.
Sob a mira de armas de fogo, Domiciano recebeu ordens para não trazer gado para aquela área da fazenda, sendo informado pelos invasores que a região seria ocupada por cerca de 200 famílias. O incidente, amplamente detalhado no boletim de ocorrência ao qual o Ver-o-Fato teve acesso (veja os documentos no final desta reportagem), já está sob investigação da Delegacia Especializada de Conflitos Agrários (Deca). Mais uma, aliás.
Durante a abordagem violenta, o gerente da fazenda caiu de seu animal, sofrendo lesões na perna esquerda que o impediram de fugir. Dominado pelos bandidos, foi interrogado sobre o gado da fazenda e instruído a não retornar àquela região, sob ameaça de que a mesma seria tomada. O grupo estava armado com quatro espingardas calibre 28, três espingardas calibre 12 e um rifle 22.
Após ser “liberado”, Domiciano ainda foi aterrorizado pelos criminosos que dispararam tiros para o alto. Mais tarde, durante a noite, os mesmos bandidos continuaram sua intimidação, disparando tiros e fogos de artifício em direção à fazenda, na tentativa de intimidar os funcionários da Mutamba.
O gerente relata que os invasores ameaçaram que qualquer funcionário que voltasse ao retiro seria “salgado”, termo que ele entende como uma ameaça de morte. Nos últimos dias, alguns animais da fazenda foram mortos a tiros. No dia 31 de março, dois trabalhadores da fazenda foram intimidados com tiros enquanto se dirigiam ao mesmo retiro João Lobo de motocicleta, reconhecendo um dos atiradores como sendo um dos envolvidos na última tentativa de invasão, que foi desta vez impedida pela equipe da Deca.
Caos e desordem
Na maioria das vezes, contudo, a Deca tem sido omissa em cumprir seu dever previsto em lei, deixando Mutran à mercê de bandidos, invasores e ladrões de madeira, que atuam sem temor, desafiando as autoridades locais. Mesmo diante de liminares concedidas pela Justiça do Pará, determinando a reintegração de posse, a eficácia da polícia no cumprimento da lei se mostra deficiente.
O delegado da Deca, em recente declaração quando instado a combater os invasores que infringem a lei, atribuiu a responsabilidade da ação a ordens superiores vindas de Belém. Mutran, por sua vez, já recorreu até ao governador Helder Barbalho em um apelo dramático por auxílio, porém, até o momento, suas súplicas foram ignoradas, evidenciando uma omissão que já clama por intervenção federal.
Abril de sangue
Para agravar a situação, iniciou-se na região o chamado “Abril Vermelho”, conhecido entre os fazendeiros como Abril de Sangue, caracterizado por uma onda de invasões promovidas por movimentos ditos sociais e bandos armados, sob a bandeira do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Este cenário retrata o Pará como um estado abandonado à própria sorte, desrespeitando os pilares do Estado Democrático de Direito.
Diante deste quadro alarmante, a situação de Sérgio Mutran serve como um retrato vívido das dificuldades enfrentadas por muitos proprietários rurais na região, clamando por ações efetivas das autoridades para restaurar a ordem e garantir a aplicação da lei.
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