Uma grave crise ameaça o atendimento de pacientes no Hospital de Emergência de Macapá (HE), referência no Amapá. A equipe de cirurgia vascular, formada por oito médicos contratados desde março deste ano, reduziu suas atividades e pode suspender totalmente os atendimentos a partir do dia 30 de setembro. O motivo: o atraso no pagamento dos salários de agosto, que deveriam ter sido quitados até o dia 5 deste mês.
Os profissionais, vindos do Pará e do Rio de Janeiro, afirmam que os custos de deslocamento, passagens aéreas, hospedagem e alimentação são cobertos justamente com os honorários recebidos pelo contrato. Sem a remuneração, a permanência deles no estado se torna insustentável. “Sei que o tempo de atraso em si não é tão longo quando estamos acostumados, porém os profissionais se deslocam de outros estados e têm gastos elevados que dependem diretamente desses pagamentos”, desabafou uma fonte da equipe.
Segundo informações obtidas, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (SESA) é a responsável pelo repasse dos valores à Nortmed, empresa contratada. Até agora, contudo, não há clareza sobre a razão da demora, nem sobre a previsão de regularização. A única resposta recebida pela equipe médica até o momento foi lacônica: “Estamos aguardando o pagamento referente ao mês de agosto para ontem”.
Cirurgias suspensas
No dia 17, os médicos enviaram um ofício à direção do hospital alertando para a gravidade da situação. No documento, eles comunicaram a suspensão imediata do agendamento de cirurgias eletivas e de avaliações em urgência para casos de feridas crônicas ou pé diabético, mantendo apenas procedimentos emergenciais de risco iminente de morte, como traumas vasculares ou infecções graves. O texto é incisivo: se até 30 de setembro a pendência não for resolvida, todas as atividades serão cessadas.
A equipe vinha realizando, em média, duas cirurgias eletivas por dia, de segunda a sexta-feira, além de responder às demandas emergenciais. O impacto de uma paralisação total seria devastador para a população, que depende desse serviço de alta complexidade para salvar vidas.
O episódio revela a fragilidade da gestão da saúde pública no Amapá. Médicos especializados são escassos e, quando se dispõem a atuar em regiões afastadas, enfrentam atrasos salariais, insegurança contratual e descaso administrativo.
Para os pacientes, o risco é imediato: amputações que poderiam ser evitadas, complicações em portadores de diabetes e até mortes em decorrência da ausência de atendimento.
O Ver-o-Fato tenta, desde ontem, contato com a SESA e com a direção do hospital, sem retorno até o momento. O espaço segue aberto para manifestação de ambos. Enquanto isso, cresce a incerteza sobre o futuro da cirurgia vascular no maior hospital do estado.















