Em entrevista exclusiva feita ontem à noite, 3, pelo portal Ver-o-Fato com a liderança indígena Alessandra Korap Munduruku, que integra a ocupação da Seduc há 22 dias, ela revela um cenário de intensa mobilização dos povos indígenas contra políticas do governo estadual que impactam diretamente a educação em suas aldeias. Alessandra reconhece que há uma “divisão entre os indígenas” e que isso é produto de uma estratégia do governo estadual para não perder o controle da situação, “cooptando lideranças por meio da Secretaria dos Povos Indígenas”.
Essa divisão, segundo ela, não se dá mais por questões como o garimpo, mas sim por um decreto que afeta a educação indígena. Além disso, aponta que vídeos estão sendo amplamente distribuídos pelo governo para influenciar a opinião pública e deslegitimar a luta dos indígenas.
A principal reivindicação dos indígenas é a revogação da Lei 10.820, que, na prática, compromete o direito à educação nas aldeias. Alessandra destaca que a educação é um direito fundamental e que o ensino precisa respeitar as especificidades culturais e linguísticas dos povos indígenas.
Ela questiona a construção de um grande estúdio pela Secretaria de Educação (Seduc), sugerindo que o governo tem planos de implementar ensino remoto nas aldeias, o que seria prejudicial à formação dos estudantes indígenas. Segundo a liderança, muitas comunidades não possuem infraestrutura adequada para receber esse modelo de ensino, uma vez que a conexão com a internet é precária ou inexistente em diversas aldeias.
A mobilização conta com o apoio de 26 povos indígenas que estão acampados para protestar contra as medidas do governo. Lideranças de diversas etnias, incluindo Tarembalé, Uai-uai, Tupinambá e Xicrim, estão engajadas na luta. A coordenadora do Movimento Emprenha, que representa mais de 150 aldeias, também participa ativamente da mobilização.
Há relatos de que povos distantes, que não puderam estar presentes fisicamente, enviaram mensagens de apoio e assinaram documentos reforçando a luta pela educação indígena.
“Ficaremos até a COP-30”
Alessandra relata episódios de repressão, incluindo a presença de forte contingente policial em manifestações e a tentativa do governo de impedir a documentação dos encontros com lideranças indígenas. Segundo ela, a mídia tradicional ignora a luta dos povos indígenas, obrigando-os a registrar e divulgar sua realidade por meio de seus próprios canais.
A líder indígena contesta a narrativa do governo de que todas as demandas foram atendidas e que o ensino nas aldeias será 100% presencial. Ela questiona a coerência das declarações governamentais, considerando as evidências de investimentos na estruturação do ensino remoto.
Por fim, afirma que os indígenas não pretendem recuar e que permanecerão mobilizados até que suas exigências sejam atendidas. Para ela, a luta não é apenas pela revogação da lei, mas pela garantia de um futuro digno para as novas gerações indígenas, com uma educação que respeite suas particularidades culturais e linguísticas.