Grupo suspeito de assaltar garimpos e circular com antenas Starlink — item raro em crimes na Amazônia — abriu fogo contra a PM e foi morto. Entre os mortos estão criminosos com histórico de assaltos, falsificação de documentos e ações no estilo “Novo Cangaço”.
A rotina silenciosa da zona rural de Novo Progresso (sudoeste do Pará) foi interrompida por tiros e sirenes. Quatro homens morreram após trocar tiros com policiais militares na vicinal Canaã, próximo à comunidade Alvorada da Amazônia, no último final de semana. A Polícia Militar afirma que o grupo fazia parte de uma quadrilha especializada em assaltos a garimpos, ação que se multiplica na região onde ouro, armamento pesado e ausência do Estado compõem uma combinação explosiva.
O caso, revelado pelo jornal local Folha do Progresso, escancara a escalada da violência no rastro da mineração ilegal: crimes cada vez mais organizados, com logística, comunicação via antena Starlink e armamento pesado — algo que já se tornou rotina na Amazônia.
Segundo o 46º Batalhão da PM, o estopim foi um assalto ocorrido no dia 28 de outubro, quando quatro criminosos armados invadiram um garimpo, fizeram funcionários reféns e levaram duas espingardas, celulares, uma motocicleta e cerca de 300 gramas de ouro — dinheiro vivo naquele submundo.
A vítima — identificada apenas como J. — reapareceu quatro dias depois com informações precisas: ele havia localizado um Fiat Uno branco com quatro homens armados, supostamente os mesmos que roubaram seu garimpo.
A PM montou uma operação e, ao abordar o veículo, foi recebida com tiros. Segundo o boletim, o giroflex de uma viatura foi atingido. Os policiais reagiram e os quatro suspeitos foram baleados. Nenhum PM saiu ferido. Os homens chegaram a ser levados ao hospital de Novo Progresso, mas morreram.
Dentro do carro, um arsenal: pistolas, revólver e espingarda; dezenas de munições; sete celulares (dois roubados no assalto do garimpo); equipamentos de comunicação; duas antenas Starlink — tecnologia usada por garimpos ilegais, narcotraficantes e quadrilhas de assaltantes para comunicação via satélite onde não existe sinal de celular.
Em pleno interior da Amazônia, criminosos com internet via satélite deixam claro: não é banditismo improvisado. É logística.
Quem eram os mortos — e por que eram tão perigosos
Edson Douglas Martins de Oliveira, 33 anos — o “técnico” da quadrilha. Natural de Mato Grosso, Edson tinha sete processos criminais e histórico de falsificação de documentos pessoais e de veículos; porte ilegal de arma; associação criminosa; receptação e roubo qualificado.
A polícia afirma que ele produzia identidades falsas, abria contas bancárias e fazia movimentações financeiras para lavar dinheiro e ocultar armas e veículos. Mudava de endereço e identidade para fugir de mandados de prisão.
No confronto, estava com uma pistola Taurus calibre .380 registrada em seu nome, além de cartões bancários, CNH e documentos. Edson era o cérebro logístico — o homem que dá estrutura para que o crime aconteça. Sem falsificador, não há quadrilha. Sem logística, não há roubo a garimpo.
Roni Ferreira de Jesus — o “executor” – Roni tinha três mandados de prisão preventiva e um histórico de violência extrema. Foi investigado e acusado de participar: de roubo a mineradora em Paranaíta (MT), em 2021 — espancaram funcionários e incendiaram o veículo usado na fuga; de um ataque do tipo “Novo Cangaço” em Nova Bandeirantes (MT): invasão de duas agências bancárias, reféns e tiroteio com a polícia; de assaltos a garimpos no Pará.
Foi preso em 2022, em Novo Progresso, usando identidade falsa. Um mês depois, fugiu serrando as grades da cadeia pública. Uma figura típica do crime armado em áreas de garimpo: violento, itinerante e sem território fixo.
O que esse caso revela sobre a Amazônia hoje
A presença de antenas Starlink — cada vez mais comuns em garimpos ilegais e em ações de grupos armados — não pode ser tratada como detalhe.
Ela simboliza um fato incômodo: o crime está mais conectado do que o próprio Estado.
Em áreas onde não há escola, hospital ou delegacia, há internet via satélite a serviço de quadrilhas armadas. A PM registrou o caso como “intervenção policial com resultado morte”.














