Três dias após o assassinato por seguranças da empresa Agropalma do indígena Agnaldo da Silva, além do baleamento de outros dois indígenas, durante a noite de sexta-feira, 10, ninguém até agora foi preso. Enquanto isso, os indios tembé turiwara – etnia a qual pertencia Agnaldo, Jonas e José Luís, as vítimas dos tiros desferidos pelos seguranças da empresa -, cobram providências das autoridades do Pará e manifestação pública do governador Helder Barbalho
O chefe do executivo até agora não deu uma palavra sobre os crimes e se mantém calado, enquanto o Vale do Acará, transformado em permanente barríl de pólvora de conflitos entre empresas exportadoras de dendê, como a Agropalma, quilombolas e indígenas, pega fogo.
A Polícia Federal foi acionada pela procuradora da República Meliza Alves ainda na sexta-feira, logo após o crime, e abriu investigação para apurar as circunstâncias que resultaram no baleamento dos turiwara e a morte de Agnaldo.
A Agropalma diz que os índíos invadiram as terras supostamente dela, enquanto os turiwara afirmam que a empresa invadiu há décadas seu território para ampliar as plantações de palma, da qual extrai o óleo de dendê para exportação.
O Ver-o-Fato tentou por diversas vezes, nos últimos dois dias e novamente hoje,13, pela manhã, obter informações sobre os procedimentos adotados pela delegacia de polícia de Tailândia, mas não obteve resultado. Os telefones chamam e ninguém atende, e quando alguém consegue falar com a reportagem é para dizer que nada tem a dizer.
Foi essa delegacia a procurada pelos indígenas turiwara para denunciar a morte e ferimentos de integrantes de seu povo. Os indígenas alegam que tanto a Polícia Civil na região, como a Polícia Militar teriam se negado a ir até o local onde a violência praticada pelos seguranças da Agropalma ocorreu.
Os policiais do estado justificaram que precisariam de permissão da direção da Agropalma e que as terras eram particulares e não públicas. Eles voltaram da frente do portão da empresa sem entrar nas terras para saber o que havia acontecido e prender os autores do crime.
O cacique Jucelino se deslocou na manhã de hoje para Tailândia para cobrar providências da delegacia. Ele também já foi comunicado pela PF de que precisará ser ouvido para relatar o que ocorreu na noite de sexta-feira. O Ver-o-Fato tentou falar com a PF para saber informações sobre a investigação, mas ninguém atendeu as ligações.
Vigilância sobre indígenas com drones
A assessoria de comunicação do MPF informou ao Ver-o-Fato que ainda na última sexta-feira o fiscal da lei abriu apuração sobre denúncia de que a empresa Agropalma estaria impedindo a comunidade indígena de exercer as atividades naturais de pesca e plantio e que a empresa teria feito sua própria demarcação de terras, proibindo os indígenas de ultrapassá-la para acessar os lagos e pescar, expulsando os indígenas que conseguem entrar na área.
Segundo a denúncia investigada pelo MPF, a área em disputa não está demarcada pela Funai mas a Funai já teria feito um pré-levantamento para demarcação. Outra denúncia: a Agropalma estaria utilizando drones para observar o atual local de moradia da comunidade indígena, vigiando-os o tempo todo.
“Nós nunca deixamos de entrar nas nossas terras para caçar e pescar. Usamos uma trilha antiga, por onde quem tem motocicleta entra para acompanhar os demais indígenas. Nós queremos nosso território de volta pois ele foi grilado pela Agropalma”, acusa um indígena em declaração ao Ver-o-Fato. Ele preferiu não divulgar o nome porque, segundo afirma, há uma intensa perseguição e ameaças sobre quem fala com jornalistas.
O indígena destacou a atuação do Ver-o-Fato, dizendo ter sido ele o único veículo de comunicação a divulgar a morte de Agnaldo e o baleamento de outros colegas dele, enquanto a grande imprensa paraense nada publicava, como se o assassinato não tivesse existido.
A Associação Indígena turyuara itapeua do Alto Acará é a representante de seu povo, segundo declarou. Ela reivindica cerca de 12 mil hectares das terras ocupadas pela Agropalma e promete lutar na justiça para retomar o território.
“Um indígena da nossa aldeia morreu numa área aqui, que desde 2010, o Estado retirou da Agropalme por grilagem de terra. Retiraram a documentação deles e o Estado tomou essas terras, que era de nossos avós, só que a terra segue nas mãos da Agropalma”, resumiu.
Um vídeo enviado ao Ver-o-Fato mostra os indígenas na área, aguardando a remoção do corpo de Agnaldo para o IML. Eles acusam os seguranças da empresa de impedir a retirada do corpo, que ficou exposto ao sol por várias horas. “Essa empresa é desumana”, afirmou.
VEJA O VÍDEO: