Não dá para negar ou esconder – a não ser na velha e moribunda imprensa paraense, onde impera a autocensura, o que também ocorre em sites e portais pagos e a serviço do governo estadual – o momento de extrema dificuldade financeira nessa segunda gestão de Helder Barbalho. O descontentamento entre os mais de 110 mil servidores, incluindo aposentados e pensionistas também aumentou, pressionando o governo por todos os lados. Helder não esconde a irritação e tenta consertar os erros, culpando secretários e auxiliares mais próximos, mas nada engrena e a máquina começa a emperrar
O orçamento de 2025, por outro lado, já está todo comprometido e não há folga de recursos para nada. Recursos de emendas parlamentares e repasses estão na geladeira, pagamentos são retidos, benefícios foram cortados e as demissões de temporários enchem as páginas do Diário Oficial. Poucos conseguem perceber que os concursados aprovados, que chegam ao serviço público para substituir os temporários exonerados, dentre esses cerca de 5 mil professores, receberão menos do que os que saíram pela porta dos fundos do governo.
Tudo isso ocorre, vale lembrar, em pleno ano da realização da COP 30, em Belém, e sob intensas cobranças do governo Lula sobre o governador, para quem repassou R$ 4,6 bilhões para obras inadiáveis. Lula e o Palácio do Planalto não admitem vacilos e querem resultados, acenando com a fatura de apoio político que pode ser mais cara do que os quase R$ 5 bilhões investidos no evento que deve trazer à capital paraense mais de 150 chefes de estado do mundo.
Tudo isso acontece em meio às notícias negativas da mídia nacional, onde em jornais como Folha de São Paulo, Estadão e O Globo – embora contemplados com polpudas verbas publicitárias do governo paraense – surgem cada vez mais notícias e reportagens sobre a incapacidade de Belém em sediar um evento do porte da COP, escancarando as deficiências urbanas, de hospedagem, mobilidade e leitos da cidade para atender às demandas internacionais.
Fogo amigo e críticas na Seplad
Por conta da crise nesse segundo a conturbado mandato de Helder, a insatisfação dos servidores, por sua vez, foca a lente de incertezas sobre o retorno à Secretaria de Planejamento e Administração (Seplad) da vice-governadora, Hana Ghassan Tuma, cotada e sob fogo amigo das intrigas palacianas, para suceder Helder em 2026.
O corpo técnico de servidores de carreira da Seplad, por exemplo, manifestou surpresa e preocupação com o retorno de Hana ao comando da pasta. Segundo avaliações internas, a atual situação de déficit orçamentário e financeiro enfrentada pelo governo seria resultado de decisões equivocadas tomadas por ela durante sua gestão anterior no órgão. O foco das críticas estaria nas escolhas de sua equipe.
Uma fonte conta ao Ver-o-Fato que, após deixar o comando na Seplad no final do primeiro mandato de Helder, a vice Hana nunca se desligou totalmente do órgão, mantendo forte influência na pasta, inclusive indicando os sucessores diretos: Ivaldo Ledo e Elieth Braga. Com a recente reestruturação, Ivaldo Ledo, que já havia ocupado o cargo de secretário adjunto e posteriormente de secretário de Planejamento, foi nomeado, agora novamente como secretário adjunto de Planejamento e Orçamento do Estado.
Servidores criticam a falta de perfil técnico-orçamentário da nova equipe, destacando que tanto Hana quanto Ivaldo são especialistas em tributação e arrecadação fiscal, habilidades consideradas distintas daquelas exigidas para a gestão orçamentária e financeira do estado. Em avaliações contundentes, técnicos classificam a atual condução orçamentária como “natimorta”.
Uma mudança vista com bons olhos pelos servidores foi a exoneração de Maria de Nazaré Souza Nascimento, que ocupava o cargo de Secretária Adjunta e era responsável pela gestão orçamentária. Segundo fontes internas, Nazaré era amplamente considerada inapta para a função estratégica. Realocada para a Casa Civil, Nazaré assumiu o cargo de Coordenadora de Núcleo e foi designada para atuar na coordenação estadual da COP 30.
A reestruturação da SEPLAD reacendeu os debates sobre a condução técnica e estratégica do planejamento estadual. Com desafios financeiros significativos pela frente, a pasta está sob escrutínio, especialmente por parte dos servidores de carreira, que destacam a necessidade de uma gestão mais alinhada às exigências técnicas da área.
“Torço a favor do pleno sucesso da COP30, mas prestem a atenção em uma coisa: a mesma equipe da Hana que com ela esteve na Seplad, no primeiro mandato do governador, é a que agora comanda o maior evento do planeta, com amplo aval do Helder”, resumiu outra fonte ao Ver-o-Fato.