Nos bastidores do poder, uma intrincada rede de articulações está em curso, protagonizada pela família Barbalho, na tentativa de neutralizar os desdobramentos de uma investigação que ameaça desmoronar parte de sua influência. O foco das manobras é proteger a deputada federal Elcione Barbalho e, sobretudo, seu marido, o empresário Rodrigo Montoril, apontado como peça-chave em um esquema de desvio de recursos de emendas parlamentares.
O caso veio à tona em novembro, quando o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou buscas e apreensões relacionadas à investigação. Empresas de fachada e contratos suspeitos com órgãos estaduais estão no centro da apuração, que já levou à solicitação de prisões preventivas pela Polícia Federal.
Dino, no entanto, decidiu aprofundar as diligências antes de tomar uma decisão definitiva, sinalizando que não pretende ceder à pressão.
A movimentação em defesa dos envolvidos reflete o peso político da família. A situação é especialmente delicada para Elcione, mãe do governador Helder Barbalho e do ministro das Cidades, Jader Filho. A expectativa é evitar que uma eventual prisão de Montoril e de outros envolvidos amplifique o impacto do escândalo, trazendo prejuízo político e pessoal à família.
Informações de bastidores indicam que aliados da família no STF estão sendo acionados para tentar dissuadir Flávio Dino de avançar nas investigações e até mesmo para arquivar o que já está em andamento. Para que isso viesse a ocorrer, porém, a Procuradoria Geral da República (PGR) teria de concordar. Até onde se sabe, isso estaria fora de cogitação.
Contudo, Dino, conhecido por sua postura firme e de não querer conversa com os Barbalho, já demonstrou que o caso das emendas parlamentares tem prioridade em sua agenda, como ficou evidente em operações anteriores, que miraram dezenas de prefeitos no Ceará e também na Bahia.
Lula, Jader e Helder
Apesar dos esforços, o Palácio do Planalto tem se mantido distante da crise. O presidente Lula, aliado de Dino, não teria dado atenção às tentativas de intervenção. Esse distanciamento agrava o isolamento dos Barbalho no caso, uma vez que sua influência política se vê limitada pela indisposição do governo federal em interferir.
O próprio senador Jader Barbalho, patriarca da família, também, segundo uma fonte ao Ver-o-Fato, teria sido cotado para assumir um papel mais ativo nas tratativas. No entanto, devido a questões de saúde, acabou poupado do embate direto.
Enquanto a chapa esquenta, o Helder Barbalho deu um tempo e encontra-se de licença para tratar de “assuntos particulares”, o que pode ser entendido tanto como férias ao lado de familiares, como outras tratativas mais robustas.
Segundo a fonte, Helder estaria em Miami, aguardando o desenrolar das negociações e se mantendo afastado do epicentro da crise, que pode envolver até mesmo o gabinete do governo estadual em novas incursões da Polícia Federal.
Abafa ou não?
Como se vê, a tensão nos bastidores exemplifica a complexa teia de relações na bolha do poder estadual, com reflexos em Brasília, onde interesses políticos e judiciais frequentemente convergem ou colidem.
A postura do ministro Flávio Dino, inflexível até o momento, eleva a tensão e deixa claro que a investigação não será abafada tão facilmente. Para a família Barbalho, o desafio vai além da defesa jurídica: trata-se de preservar um capital político construído ao longo de décadas e evitar um vexame que poderia marcar profundamente seu legado.
O caso segue em investigação, e os próximos dias prometem trazer novos capítulos a essa trama que combina poder, justiça e política em uma narrativa típica dos tempos atuais.
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