Josué Costa – jornalista
Dom Alberto Taveira vai precisar se desdobrar de novo para lidar com mais um problema em sua conturbada gestão como arcebispo de Belém.
Como se não bastasse a indiferença do prelado dispensada ao problema dos padres que desafiam o celibato e convivem maritalmente com mulheres dentro ou fora da casa paroquial, o arcebispo tem outro desafio: afastar do ministério aqueles que têm filhos com suas amantes.
A normativa da tolerância zero para esses casos vem do Vaticano. Agora são ordens superiores.
A Santa Sé também finge não ver os casos de amância dos seus padres, mas parece que decidiu abrir mão dessa vista grossa para os casos com registros de paternidade.
Novela antiga cujo capítulo final começa a ser desenhado. Será? A Arquidiocese de Belém tem seguramente alguns padres que vivem essa vida dupla: não abandonam o ministério e nem abrem mão de suas concubinas. Aparentemente infelizes, não são nem plenamente padres nem plenamente esposos.
Os fiéis sabem da infidelidade dos seus padres. Há registros de atritos aqui e acolá por conta disso, mas a regra é seguir fingindo não ver enquanto o caso não ganhe a dimensão de escândalo nem atice a vida paroquial.
Um padre providentino, ex-paroco de São Domingos de Gusmão, na Terra Firme, foi o último e mais recente caso de perda compulsória da função. Foi afastado depois que os fiéis decidiram publicizar, em carta aberta, há pouco mais de um ano, a duplicidade de vida do sacerdote.
Esse modus operandi de denúncia é o terror dos padres infiéis. O segundo passo, caso nenhuma providência seja tomada pelos bispos, é pautar a denúncia nas mídias televisivas, recurso que aterroriza ainda mais não só os padres como, também, os bispos. A ordem é nunca lavar roupa suja em público.
O Conselho Presbiteral da Igreja de Belém tem cobrado de dom Alberto Taveira uma atitude mais enérgica em relação aos padres com filhos. A cobrança agora é engrossada por ordem de superior hierárquico.
Mas o arcebispo tenta contemporizar, como até então tem feito. A paciência do seus pares, no entanto, tem limites. O aviso foi dado.
Gestão de problemas
E por falar em pares, o clero de Belém ainda está notoriamente dividido: temos o grupo de sustentação do arcebispo, que tenta blindá-lo das investidas da oposição, e temos o grupo daqueles padres que gostariam de ver Dom Alberto longe da cátedra de Belém. Esse grupo, por sinal, tem o reforço da simpatia de muitos leigos em sua intenção.
Pesa ainda sobre o arcebispo, denúncias de omissão a casos de graves denúncias de desvios de conduta moral também dentro do seminário São Pio X, casa de formação dos presbíteros diocesanos. Parte do Clero exige intervenção do arcebispo naquela casa, mas, também nesse caso, recebe o silêncio como resposta.
Recentemente um seminarista, que chegou a concluir os estudos para a ordenação, foi afastado por denúncia de assédio sexual. Mas está residindo numa casa paroquial, acolhido pelo pároco. O caso, conhecido de dom Alberto Taveira, é bala na agulha da oposição.
Ou o arcebispo continua fingindo que não vê nem sabe de nada, com criticas previsíveis à sua gestão, ou toma a esperada decisão no sentido de afastar os padres com filhos e, pelo menos, investigar as denúncias na casa de formação. Um dilema que ninguém gostaria de estar vivendo.
Enquanto isso, os padres em amância e sob as asas protetoras do arcebispo, segundo dizem, seguem nas fileiras do clero, desafiando a conduta moral e ética a que são chamados a viver exemplarmente. Por enquanto, a receita paliativa usada é a troca de paróquia ou até mesmo de jurisdição eclesiástica. Poucas vezes o acusado é afastado da função ou mesmo suspenso do ministério sacerdotal, como manda a regra.
A receita ideal para tratar esses casos não é fácil de ser aviada. Além dos sentimentos de amizade e de compaixão, o bispo deve estar levando em conta a regra do “ruim com ele, pior sem ele”. As paróquias de Belém, por exemplo, já sofrem com a carência de padres para o atendimento satisfatório das demandas pastorais. A messe é grande e os operários são poucos.
Dom Alberto Taveira tem os nomes dos padres infiéis sobre a sua mesa. Seu rebanho espera uma decisão.
