Um inquérito policial militar foi iniciado para investigar a morte do soldado da Polícia Militar Adriano Francisco Leitão Neto, ocorrida em 4 de julho de 2023, em um posto de gasolina localizado na avenida Almirante Tamandaré, no bairro Batista Campos, em Belém. O caso será julgado pela Justiça Militar devido à natureza do envolvimento da vítima como militar em uma operação desastrada da PM na qual Leitão foi morto com vários tiros pelos próprios colegas de farda. Há, porém, controvérsias sobre o caso, que sequer ainda sem denúncia oferecida pelo MP, se deveria ser julgado na justiça comum ou militar.
O Ministério Público Militar levantou a questão de que já havia um processo investigativo similar em andamento na 3ª Vara do Tribunal do Júri e solicitou a transferência do caso para essa vara. No entanto, o juiz manteve a decisão original e encaminhou o caso ao procurador-geral de Justiça, Cézar Mattar, para parecer.
As informações foram obtidas com exclusividade pelo Ver-o-Fato através dos documentos do processo que segue em segredo de Justiça.
O procurador-geral determinou que a responsabilidade pelo caso deveria ser atribuída ao Ministério Público nas Promotorias de Justiça do Tribunal do Júri. O entendimento é de que em caso de crime doloso praticado por militar contra militar, a competência é da Justiça Comum.
Detalhes e fogo amigo
De acordo com o inquérito, no dia do incidente, Adriano Leitão participava de uma operação acompanhado pela tenente Brenda Rodrigues, para prender dois criminosos acusados de sequestro que estavam em fuga. Durante a ação, Leitão, que estava disfarçado na investigação e dentro de um veículo não identificado, começou a perseguir um dos criminosos.
Quando os policiais chegaram, confundiram Leitão com um criminoso e efetuaram 10 disparos contra ele. Só após os tiros, os policiais reconheceram Leitão como um colega de equipe e prestaram socorro, mas ele não resistiu aos ferimentos, morrendo no bloco cirúrgico de um hospital particular dois dias depois.
Dois inquéritos foram abertos para investigar o caso. O relatório de um dos inquéritos indicou a ocorrência de crime e transgressão disciplinar por parte dos policiais envolvidos.
Uma testemunha dos fatos que preferiu não se identificar, explicou o que teria ocorrido no dia da operação.
No dia 4 de julho, durante uma operação policial na avenida Tamandaré, um grave erro de comunicação e coordenação resultou na morte do soldado Leitão, segundo ela. A operação envolveu a comandante Ediene Rodrigues e o Batalhão Águia, entre outros, mas enfrentou sérios problemas.
“Enquanto a inteligência policial estava posicionada na avenida Tamandaré para monitorar uma possível ação criminosa, a comandante Eddiene atividade foi filmada ao vivo em um programa de televisão na Seccional de São Brás. Ela estava com o Batalhão Águia e outros policiais, mas o delegado responsável não estava presente na seccional. A comandante decidiu realizar uma operação que, segundo críticos, não era necessária e estava fora da competência da PM naquele momento”, disse.
“O soldado Leitão, que fazia parte da equipe de inteligência, foi confundido com um criminoso pelos policiais do Batalhão Águia. Ele estava perseguindo um suspeito quando foi alvejado. Mesmo após ser identificado como policial, ele recebeu disparos fatais. A comandante Ediene, que não estava presente na operação, acabou tentando cobrir a situação e posteriormente não relatou o incidente corretamente à seccional”, continua a fonte.
“Além disso, a operação enfrentou falhas na coleta de provas e na comunicação. O responsável pela medida preliminar, Marcos Vinícius Brasil, não seguiu os procedimentos adequados, o que comprometeu a investigação”, concluiu.
A atuação da comandante Ediene e a falta de coordenação resultaram em uma operação que muitos consideram desastrosa e que levou à morte do soldado Leitão.
Comunicou a operação ou não?
“Alguns dizem que ela repassou as informações, outros dizem que não. Os executores do soldado Leitão confessaram em depoimentos, tanto no IPM, quanto no IPC, que ela repassou as informações e mencionou a existência de inteligência. Eles permaneceram em vigília enquanto tudo acontecia, sem estarem cientes de nada”.
Então, uma operação foi montada sem que houvesse uma comunicação prévia com a inteligência, e sem que houvesse comando ou comunicação com o comando da PM. Pelo depoimento do comandante, que estava respondendo pelo CPC-1, Carlos Manga (se eu não me engano), ele afirma enfaticamente que toda e qualquer operação, enquanto ele estava no comando do CPC-1, deveria ter a autorização dele ou no mínimo, uma comunicação”, concluiu.
Um detalhe chama atenção nessa história: Leitão era soldado no Batalhão da PM no Guamá e foi transferido após ter problemas com uma facção criminosa ligada ao tráfico de drogas na região.
A equipe de reportagem do Portal Ver-o-Fato tentou contato com todos os citados na matéria, porém sem sucesso. O espaço segue aberto para manifestações.