Dois delegados da Polícia Civil, vestidos com coletes balísticos da instituição, estão sendo acusados de agressão contra uma idosa de 75 anos e a neta dela, de 24 anos, dentro da casa das vítimas, no Ramal da Angélica, Bairro Francilândia, em Abaetetuba, na Região do Baixo Tocantins, nordeste paraense.
Os policiais, além da suposta violência física, dispararam três tiros dentro da casa, dos quais, dois estojos estão em poder da família, fato que foi filmado por uma parente das mulheres. Segundo as vítimas, os policiais disseram que estavam procurando um filho da dona da casa, foragido da justiça, identificado como José Maria Nunes de Andrade, contra quem havia um mandado de prisão.
As vítimas são a idosa Raimunda Conceição dos Santos, de 75 anos, e a neta dela, Jéssica Rodrigues de Andrade, de 24 anos. Os policiais foram identificados como o delegado Marcelo Zap Bertoncello e outro de prenome Nícolas, que o Ver-o-Fato apurou tratar-se de Nicholas Barbosa, que atua na Vila dos Cabanos, em Barcarena. Ambos estavam em uma operação de captura do homem foragido.
A idosa gravou um depoimento falando das agressões que sofreu e pediu socorro às autoridades. O agressor dela seria o policial Nícolas. Já a neta dela disse que além de sofrer todo tipo de espancamento e humilhações dos dois policiais, foi presa e ficou recolhida por seis horas em uma cela da Delegacia da Polícia Civil de Abaetetuba, Disse também que foi obrigada a mentir e que foi ameaçada caso denunciasse as arbitrariedades.
“Eles chegaram por volta de meio-dia de ontem (6), disseram que eram policiais e foram invadindo a casa. Perguntaram por um tio, que a gente não vê há mais de cinco anos, dizendo que ele era foragido da justiça. A minha avó falou que não sabia onde ele estava e levou vários tapas no rosto do Nícolas. Depois, eles vieram para cima de mim e também me espancaram. Fui algemada e levada para a Delegacia, onde fiquei até as 7 horas da noite e disseram que eu tinha que comparecer em agosto para responder o processo, que eu nem sei o que é”, disse Jéssica Andrade ao Ver-o-Fato.
Desespero e celular levado
Segundo a mulher, tudo aconteceu na frente de três crianças, filhas dela, que entraram em desespero, principalmente quando um dos policiais deu três tiros dentro da casa. Ainda de acordo com ela, os policiais levaram todos os celulares que encontraram, inclusive o dela, que havia filmado toda a truculência deles.
“Eles me levaram para uma UPA para fazer o exame de corpo de delito, mas no caminho me ameaçaram e disseram para eu mentir, falar que não tinha acontecido nada comigo, e eu tive de mentir, com medo. Mas eu estou com dores por todo o corpo, principalmente no peito, onde levei vários socos. Nós estamos com medo que eles façam alguma coisa com a gente, porque eles são muito violentos. Nós pedimos ajuda para a TV Record, mas eles disseram que não iam fazer nada”, disse ela.
Jéssica enviou ao Ver-o-Fato a cópia de um procedimento feito contra ela na Delegacia de Abaetetuba, pelo delegado Marcelo Bertoncello, em que ela nega que tenha sido agredida juntamente com a avó e afirma que chamou palavrões para os policiais.
No documento, ela também nega que tenha corrido para avisar o homem que era procurado, como os policiais inicialmente pensavam. Segundo ainda a mulher, o celular dela está em poder da polícia, que teria mexido no aparelho e mudado a foto do aplicativo de mensagens dela. Nossa reportagem não conseguiu contato com os policiais envolvidos na operação, mas abre espaço às manifestações da dupla.
Providências imediatas
O Ver-o-Fato entrou em contato com o delegado-geral, Walter Resende e enviou a ele as imagens sobre o ocorrido, abrindo espaço à manifestação da Polícia Civil. O delegado lamentou, disse que estava em São Félix do Xingu, participando de uma inauguração em Vila Taboca, prometendo que entraria em contato com o corregedor-geral da PC, delegado Raimundo Benassuly.
Minutos depois, Benassuly ligou para o Ver-o-Fato informando que as imagens a ele enviadas ajudariam na apuração do caso. “Existe a necessidade de apurar todos os fatos”, resumiu o corregedor. Além da Corregedoria, a Divisão de Crimes Funcionais (Decrif) também já foi acionada.
O diretor, delegado Rogério Moraes, irá montar uma equipe e deslocar seus agentes ainda hoje para Abaetetuba. Eles irão até a casa onde tudo ocorreu para ouvir os depoimentos das vítimas e providenciar exames de corpo de delito, garantindo a correta apuração dos fatos.
Veja os vídeos, com narrativa da idosa e tiros: