O governador Helder Barbalho acordou nesta sexta-feira, 17, soltando seus demônios para cima de alguns auxiliares, cobrando esclarecimentos e providências urgentes sobre a real situação em que se encontra, no Estado, a multinacional francesa Imerys. Essa empresa, envolvida semana passada em denúncias de descaso e omissão após um incêndio com produtos químicos em Barcarena – onde parte da população daquela cidade foi envenenada -, parece ter entrado na linha de tiro do governo.
O motivo de tanta irritação do governador seriam as revelações feitas em um artigo publicado ontem, com exclusividade, pelo Ver-o-Fato – leia aqui em https://ver-o-fato.com.br/imerys-comeca-a-abandonar-o-para-deixando-rombo-ambiental-sanitario-e-social-incalculavel/
Nesse polêmico artigo, assinado pelo advogado socioambiental Ismael Moraes, é revelado que a Imerys estaria se preparando para abandonar o Pará, “deixando para trás um rombo incalculável de passivos ambientais, sociais e tributários no estado”. O governo de Helder é duramente criticado no artigo, principalmente a Semas, acusada de leniência com as irregularidades da Imerys.
Moraes, de forma contundente, expõe as práticas predatórias da Imerys no Pará e ainda escancara a leniência ou, talvez, até a conivência de órgãos do governo com as irregularidades. Ele lembra também que, além de devastar todos os lugares por onde passa, a empresa francesa foi abençoada com bilionários favores fiscais.
Pior ainda: deixou de pagar impostos e é uma das grandes devedoras do Fisco paraense. Agora, resume o artigo, a Imerys começou a encerrar as suas atividades no Pará sem que as próprias autoridades do Estado tenham sido sequer comunicadas e, o que é igualmente grave, sem um plano socioeconômico compensatório aos rombos sociais e tributários.
Cabeças na bandeja
“O homem estava furioso, com cara de poucos amigos; enfim, com a macaca”, contou a fonte do Ver-o-Fato. Logo cedo, Helder convocou uma reunião urgente com o pessoal das Secretarias de Mineração e de Meio Ambiente, Procuradoria-Geral do Estado e outros assessores da área. O governador queria saber se eram verdadeiras as informações contidas no artigo de Ismael Moraes e cujas denúncias atingiram em cheio a gestão ambiental e econômica do atual governo.
Helder ainda interpelou a equipe dele sobre os passivos ambientais denunciados pelo advogado. De acordo com a fonte palaciana, os auxiliares que tiveram a oportunidade de se manifestar diante da imagem ranzinza do governador no vídeo-reunião, assumiram, com grande constrangimento, que eram absolutamente verdadeiras as preocupações postas no artigo, e que realmente o Estado não estava tomando as providências para exigir reparações e compensações da Imerys.
Além de confirmar as denúncias, alguns assessores tentaram justificar os problemas enfrentados pela gestão de Helder com as questões ambientais e fiscais, atirando farpas sobre as gestões dos governos tucanos – leia-se Almir Gabriel e Simão Jatene – e culpando-os pela situação, mas sem dizer ao governador o que fizeram ou deixaram de fazer nesses três anos de gestão do emedebista.
Helder parece não ter gostado das explicações, até porque já teve tempo suficiente para consertar tais erros dos antigos governantes, mas não o fez. Pelo contrário, amplificou-os, embalado pela inércia, embora ele cobre de auxiliares o que, na prática, não tem a coragem de fazer como dono da poderosa caneta que empunha.
Em resumo: o governador sabe que acariciar essa “bomba” que o advogado Ismael Moraes atirou no colo dele é praticamente riscar o pavio de um grande escândalo e fazê-lo explodir, espalhando estilhaços por todos os lados.
Helder, na verdade, pretende marchar rumo à reeleição com muito dinheiro de doações das mineradoras para a campanha eleitoral. Por essa razão, a melhor saída do impasse ambiental em que vive o governo dele será bancar o Tiradentes com o pescoço de seus secretários. E danem-se os que não souberem se safar.
Desfecho da ópera: cabeças estão prontas para rolar.