Na segunda parte de um vídeo gravado e distribuído para 19 autoridades do Pará e de Brasília ligadas à Justiça e ao Ministério Público Federal, Júnior Tabaranã, um dos herdeiros das terras ocupadas pela empresa Agropalma, cobra do governador Helder Barbalho providências contra órgãos públicos que atuariam em favor da empresa exportadora de óleo de dendê, mesmo sabedores de que ela ostenta documentos falsos em seus processos administrativos, fato reconhecido inclusive pelo Poder Judiciário.
Tabaranã também acusa o empresário Jader Filho de exercer pressão em favor da empresa em tais órgãos. E afirma: ” O senhor não pode falar que o senhor não tem conhecimento, governador. O senhor tem conhecimento de tudo”.
Desde ontem, quando publicamos a primeira parte do vídeo, tentamos – e continuaremos a tentar, porque esta é uma regra básica do bom jornalismo – ouvir Helder Barbalho e Jader Filho. As assessorias de ambos e própria Secretaria de Comunicação Social do governo do estado foram procuradas pelo Ver-o-Fato, mas não se manifestaram. O espaço continua aberto para que os irmãos exerçam o contraditório e se defendam das acusações feitas por Tabaranã.
Enquanto isto, os leitores ficam com a segunda parte, abaixo, da degravação do vídeo.
“Povo paraense, entenda a nossa situação, o que eu tô passando. A Agropalma faz fraude, os cartórios fazem fraudes. Tem o cartório de Tailândia que fez fraude. Cartório de Moju, cartório do Acará, Cartório Oliveira Santos, que não existe. Todos, em depoimento, apontam no inquérito que gerou no Acará, para Antônio Pereira da Silva, então gerente-geral da Agropalma, e Hilário Rodrigues de Freitas, presidente da Agropalma.
E o Tribunal, em 2014 – essa é a única decisão que está de pé, gente -, mas vocês vão entender o que estou falando, nas entrelinhas, eles ( cartório ) simplesmente receberam, segundo depoimento, que foram pagos R$ 200 mil por meia dúzia de certidões de restaurações. Para aquele que não conhece uma certidão, povo paraense, uma certidão restaurada custa em média R$ 150, vezes cinco, faça sua conta. Ficou um pouquinho distante de quase R$ 200 mil.
Mesmo assim, os brilhantes advogados da empresa Agropalma conseguiram um habeas-corpus nessa ação penal do Acará. É aquilo famoso que se diz; no Brasil só os peixes pequenos ficam, os tubarões saem. Então, entenda a nossa situação: a Agropalma é beneficiada com um registro de imóvel, num cartório que não existe, ela paga, sei lá, 200 vezes a mais que o valor de mercado e “não fiz nada, se fizeram foi eles”. Coisa de Papai Noel. Presentearam a Agropalma com um documento falso e ela não sabia. É só essa que está faltando. Mas, acima de Deus, ninguém. Uma hora, essa também vai cair. E fomos andando, fomos pra frente, avançando, avançando.
Tenho aqui termo de reunião com o Ministério Público, com a promotora Eliana Pinto Moreira, brilhante promotora, do Ministério Público do Pará. Eu venho aqui a público parabenizá-la, povo paraense. O Ministério Público do Estado não é ausente, ele é presente. Estão aqui os documentos ( aponta os documentos sobre a mesa). São vários promotores que estão trabalhando, com afinco. Vêm provando, vêm denunciando.
A promotora, Eliana Pinto Moreira, ajuizou contra a Agropalma duas ações civis públicas. Essa primeira ( exibe o documento ), é com relação ao cartório fictício Oliveira Santos, o cartório que não existe, meus amigos. Isso aqui já tem sentença transitada. Isso aqui já caiu. Entendam, caiu. Que são 12 matrículas relacionadas a 22 mil hectares em nome da empresa Agropalma. Devidamente canceladas pelo juiz agrário de Castanhal.
Logo após, a promotora ajuizou outra ação civil pública ( exibe o documento ). Essa aqui está tramitando, mas elas estão bloqueadas (matrículas). Essa aqui, meus amigos tem totalmente conexão com a fazenda Porto Alto, de 35 mil hectares. Aqui a verdade começou a vir à tona. Essa Porto Alto está dentro da decisão da desembargadora Luzia Nadja.
Dos 100 mil hectares hoje em que a empresa Agropalma está sentada em cima, como mera posseira, a verdade é essa. Ela batia no peito dizendo “eu sou proprietária dessas áreas, eu tenho CCIR, eu pago ITBI, eu tenho registro de imóvel, eu tenho escritura pública”.
MENTIRA. Está tudo cancelado. Nunca existiu CCIR, ela não tem CCIR. Ela não tem certificação do Incra, cancelada. Mas lá na frente eu vou falar sobre esse tema, que já é da esfera federal.
Vamos voltar, população paraense. Eu clamo por vocês, me ajudem. Esta decisão aqui está sendo cumprida. Aqui tem os documentos comprobatórios. Parecer da procuradora de Justiça, Rosa Carvalho ( exibe o documento ). Em nosso favor, da minha família. Numa ação civil hoje que a gente move contra a Agropalma. Essa todo mundo sabe o que aconteceu. A Agropalma grilou as terras, invadiu e grilou as terras da nossa família. E está lá até hoje.
Com isso, hoje, o Governo do Estado do Pará… está tendo um choque dentro do Governo do Estado do Pará. A Procuradoria Geral do Estado (PGE), do governo passado…. Fique bem claro, população paraense, porque o governador do estado tem uns textos prontos, no bolso, parece um coelhinho saindo da cartola. Qualquer perseguição da Federal ele alega logo perseguição política. Fique bem claro.
Na operação da Polícia Federal, a Operação Ábate, foi feita busca e apreensão do celular do gerente da Agropalma e do notebook dele, aonde foram encontradas as mais diversas provas. É como o povo diz: Deus tarda, mas não falha. Estão em poder da Federal. Mas como somos parte denunciante, os meus advogados criminalistas tiveram acesso. E nesses e-mails, troca de e-mails, muito graves, meus amigos.
Tem troca de e-mail do irmão do governador do Estado do Pará. Isso, governador Helder Barbalho. Tem troca de e-mail do seu irmão com o líder da Agropalma pra ajudar a empresa em troca de anúncios. Que fique bem claro hoje, governador, que a maior anunciante do seu grupo, da sua família, o Grupo RBA de Comunicações é a empresa Agropalma.
É muito estranho, governador, é no mínimo estranho. Quanto mais ele abafa e ganha, mais anúncio aparece, governador, e mais o Estado fica omisso. Mais o Estado mete a mão na lama, governador. Governador, não faça isso com a minha família, governador. O senhor não pode falar que o senhor não tem conhecimento, governador. O senhor tem conhecimento de tudo, governador. Mas lá na frente, governador, nós vamos também falar sobre isso.
Porque eu falo que o senhor vai falar que é perseguição política. Porque nos e-mails trocados ficou claro que a Agropalma também bancou o governo do Simão Jatene para ficar omisso e se calaram. Então, não é perseguição política. Não tem perseguição política, governador. Tem sabe o quê, governador? Benefícios e mais benefícios. O senhor sabe do que estou falando. O seu irmão Jader Filho sabe do que estou falando. Tá lá as provas, governador. Estão lá. Mas uma hora vêm, governador. Não use mais esse argumento, que não cola. Não nesse caso aqui da Agropalma e da família Tabaranã.
Não use esse termo, “perseguição política”. E também não vá falar “eu não sabia, se soubesse tomava providência”. Lá na frente as provas vêm à tona. O povo paraense vai saber quem é o senhor. O que eu só quero, governador, é Justiça. Eu só peço que o senhor faça o certo. Eu não estou aqui lhe pedindo para o senhor fazer errado, não; faça só o certo. Porque esse papo, governador, que a Agropalma gera 5 mil empregos, gera imposto, isso é balela, governador. Os agentes públicos meteram a mão na lama. Esse historinha, como diz o paraense, é conversa pra boi dormir, governador. Não cola mais, tá errado.
Mas vamos continuar, governador. Vamos ver o que tem a favor da família, como falei. Isso aqui, meus amigos ( exibe documento ), é um relatório da PGE, a Procuradoria Geral do Estado do Pará. Aqui, a procuradora Cristina Magrin relata cada situação, de cada fazenda hoje ocupada pela empresa Agropalma. São cerca de 25 fazendas. Meus amigos, ela conta e narra cada tipo de fraude. Eu vou destacar pra vocês, porque eu quero mostrar a conexão, que eu não estou blefando ou mentindo. Tudo em conexão com essa decisão aqui (exibe o documento ) da desembargadora Luzia Nadja. A grilagem de Jairo Mendes Sales.
É o seguinte: Jairo Mendes Sales fez a fraude. A Justiça está quebrando toda essa fraude. Só que a Agropalma montou uma segunda grilagem, em cima das terras da minha família. Esse é o relatório, tá aqui (exibe o documento ). Ele demonstra que isso vem da decisão da desembargadora Luzia Nadja, que é uma fraude que a Agropalma montou. Uma fraude para ocultar essa decisão. Ocultar é fazer fraude, fazer trambicagem, fazer grilagem. Tá aqui o relatório.
No decorrer de tudo, gente, isso aqui eu denunciei no governo do Simão Jatene, pra mostrar pra vocês que não tem nada aqui de papo furado de falar que é perseguição política. No governo do Jatene nós denunciamos, governador. Esse aqui é um relatório elaborado pelo procurador de Justiça, Nelson Medrado. Tá aqui ( exibe o documento ) o relatório.”
Amanhã, 16, a parte final da degravação, com a íntegra do vídeo.
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