O Pará precisa – e muito – dos investimentos chineses para romper os grilhões da pobreza, mas a China, mais ainda, necessita do Pará e de suas imensas potencialidades para também produzir alimentos para seu povo. Em vista disso, bons projetos e negociações que tragam benefícios comuns aos dois lados serão bem-vindos.
Exemplo disso são as tratativas entre a Universidade Chinesa de Hohai e a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), que já estão adiantadas para celebração de um convênio de mútua colaboração entre as instituições.
O foco principal é a recuperação de áreas com solos degradados e a utilização e aplicação de biofertilizantes nas diversas culturas cultivadas na região amazônica, seja açaí, dendê, mandioca e grãos, com seus derivados de soja, milho, etc. As áreas exploradas pelo segmento da mineração também estão inseridas no contexto de recuperação de solos degradados.
A China está preocupada e focada em ações que venham minimizar a escassez alimentar global, por isso vem realizando investimentos em estudos e pesquisas na recuperação de áreas degradadas para utilização na atividade agrícola. Os números são expressivos do trabalho a ser feito: os chineses almejam alcançar centenas de milhares de hectares degradados e que hoje não servem para nada. Essas áreas serão recuperadas e convertidas para produção de proteínas animal e vegetal.
O coordenador dos trabalhos pela parte que compete à Ufra é o professor e doutor em geologia, Anderson Braz. A região do estado escolhida para implantação dos campos de testes da primeira fase dos estudos e pesquisas foi o nordeste paraense, mais especificamente, as propriedades rurais selecionadas nos municípios de Bragança, Tracuateua e Viseu.
Em Tracuateua, será feito um levantamento minucioso da potencialidade do uso do pó de rocha das britas do município na fertilização. Os pesquisadores da Ufra em parceria com os chineses querem colocar o Pará na vanguarda do Brasil nesse campo. Como é de praxe, os chineses estão articulando e trabalhando suas ações de forma silenciosa e discreta.
Os consultores chineses, porém, propagam os planos de atrelar os vagões paraenses às locomotivas chinesas, isso tudo para atender as demandas da província mais próspera da China, com uma população de 120 milhões de habitantes e o maior PIB do tigre asiático, a província de Guangdong.

Fim dos atravessadores
Bem ao estilo chinês, o planejamento para as ações no Pará ganha terreno sólido e adiantado, pensando sempre a longo prazo. A região contemplada para a segunda fase dos trabalhos foi a mesorregião de Paragominas, mais precisamente os municípios de Paragominas, Dom Eliseu, Rondon do Pará, Abel Figueiredo e Bom Jesus do Tocantins. Como nos moldes da primeira fase, serão selecionadas fazendas para implantação dos campos de testes.
Com a China entrando em campo, isso favorecerá quem de fato produz na região, eliminando da cadeia produtiva a figura nefasta dos atravessadores. Ou seja, liga as pontas diretamente entre quem produz e quem consome, reorganizando toda cadeia de produção. Coisa que hoje não existe, por exemplo, no segmento da produção de grãos, que abriga uma das commodities mais importantes.
Lógico que, no plano político, o apoio não pode faltar. A parceria dos chineses com os paraenses tem o aval da Sino-Lac, a frente parlamentar Brasil-China, integrada pelos deputados federais Cristiano Vale (PA) e Fausto Pinato (SP).
