“Meu estilo de vida mudou completamente. Tenho plena consciência de que meus hábitos alimentares não eram os mais saudáveis”. A declaração dada pela cantora Preta Gil em reportagem na TV ilustra muito bem a realidade brasileira.
Infelizmente, a maioria das pessoas só toma a decisão de adotar um estilo de vida saudável depois de um grande susto e sofrimento. Preta está fazendo tratamento contra câncer de intestino, que tem relação direta com má alimentação.
O câncer de intestino (colorretal) é o 3º tipo de maior incidência no Brasil, superando o câncer de colo de útero, que ocupava essa posição até o ano passado. São mais de 45 mil novos casos diagnosticados e mais de 20 mil mortes por ano.
E a expectativa do INCA é de que o número de pessoas atingidas pelo câncer colorretal continue crescendo, o que torna o problema ainda mais preocupante.
Com a palavra, Paula Sampaio
A grande contradição é que esse é um tipo de câncer considerado evitável. “Dieta rica em alimentos processados ou ultraprocessados, em carne vermelha, gordura e preparações instantâneas está diretamente relacionada a esse tipo ao câncer colorretal. Obesidade, sedentarismo e tabagismo completam a lista de fatores de risco que podemos evitar”, observa a médica oncologista Paula Sampaio, do hospital Barros Barreto e Centro de Tratamento Oncológico (CTO).
Segundo ela, atividade física regular, sozinha, já reduz o risco de desenvolver a doença em 26%. “Uma dieta rica em frutas, legumes e verduras é fundamental. O consumo de 10 gramas de fibras ao dia reduz o risco de câncer de intestino em 10%. Não tem jeito. Se queremos qualidade de vida e longevidade, temos que ter um estilo de vida saudável”, completa a médica.
O câncer de intestino merece destaque, mas hábitos saudáveis podem diminuir as chances de alguém ter câncer (vários tipos) em pelo menos 30%. Datas como o Dia Mundial de Luta Contra o Câncer são um convite para que as pessoas e organizações se esforcem para reduzir o impacto da doença, que, de acordo com as estimativas da OMS, até 2030 vai superar as doenças cardiovasculares e se tornar a campeã em mortalidade no mundo todo.
“Nós não podemos deixar de bater nessa tecla, mas a mudança depende de cada um fazer a sua parte. As pessoas precisam se esforçar para adotar hábitos saudáveis. Temos que estimular a vacinação contra o HPV para crianças e adolescentes, por exemplo. Essa é uma medida de prevenção primária. Um tipo de medida que pode evitar que a pessoa tenha câncer, como é o caso de não fumar, não ser sedentário e controlar o peso”, explica Paula Sampaio
Outro tipo de medida preventiva são chamadas de secundárias, que podem assegurar o diagnóstico precoce, que também é de enorme importância, pois garante chances de cura elevadas. São consultas periódicas e exames preventivos recomendados pelos médicos.
O caso da bancária Léa
A bancária Léa Paysano, de 60 anos, passou pelo tratamento de um câncer de intestino e agora está em acompanhamento médico. O diagnóstico veio em maio de 2020, início da pandemia da Covid-19. Léa lembra que percebeu sangue nas fezes, mas acreditou ser pelo nervoso com a pandemia.
“Tinha muito medo de sair de casa, de precisar ir ao médico ou fazer exames por causa da covid-19. Por isso, fiquei um tempo com os sangramentos sem falar para ninguém”, diz ela. Só quando comentou com uma irmã e um sobrinho que é médico, decidiu procurar um gastro para investigar o problema.
O exame de colonoscopia só foi feito no dia 18 de julho, quando o câncer foi confirmado. A cirurgia para a retirada do tumor aconteceu um mês depois, em 11 de agosto. O tratamento com quimioterapia durou até março de 2021.
Léa Paysano lembra que tinha outros casos de câncer de intestino na família paterna, e afirma que sempre teve uma alimentação saudável. “Nunca tive o hábito de comer besteiras na rua, o único excesso era a pimenta para acompanhar o prato favorito – peixe. Mas, não tinha nenhum outro fator de risco, sou magra, não bebo e nem fumo. Por isso, o diagnóstico foi um susto”, garante.
“Foi tudo muito rápido, mas como o diagnóstico foi precoce, com o câncer em estágio inicial, hoje estou bem”, comemora. “Mas sou ainda mais rigorosa com minha alimentação, para ter um prato sempre saudável, sem gorduras e com muita verdura e legumes. Só não consegui largar o açaí, que tomo todos os dias”, diz Léa Paysano.
A realidade
De acordo com as estimativas do INCA, o Brasil terá 704 mil novos casos de câncer diagnosticados por ano, no triênio 2023 a 2025. Isso representa um crescimento de 12,64% dos casos de câncer no Brasil, comparando com estimativa anterior (2020-2022). A incidência do câncer no Brasil é alarmante porque reafirma o câncer como a 2ª causa de mortes por doença no mundo.
O tipo de câncer mais incidente no Brasil continua sendo o de pele não melanoma, com 220 mil novos diagnósticos (31,3% do total de casos). Mas apesar da quantidade, ele apresenta altos percentuais de cura e menor mortalidade, se tratado adequadamente. Por isso, não é considerado tão preocupante quanto os outros tipos de câncer.
O câncer de mama continua sendo o segundo tipo com maior incidência no Brasil, com 10,5% do total de diagnósticos. De 2023 a 2025, são estimados 73.610 novos casos a cada ano, contra 66 mil na estimativa anterior.
Entre os homens, o câncer de próstata é o 2º mais comum (depois do câncer de pele não melanoma), com 71.730 casos, representando 10,2% do total. Em seguida, o destaque é para os tumores de intestino e de pulmão.
Tanto para o câncer de mama quanto para o de próstata os 2 tipos de prevenção, primária e secundária, são primordiais.
Datas
O Dia Mundial de luta contra o Câncer (8 de abril) foi criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para que organizações ao redor do planeta se reúnam em prol da prevenção dos vários tipos de câncer, além de dar força aos pacientes que lutam contra esta doença.
Dia Mundial do Câncer (2 de fevereiro) – foi criado pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) em apoio aos objetivos da Declaração Mundial do Câncer, lançada em 2008. A cada 2 de fevereiro, um esforço coletivo e mundial é realizado para conscientizar a população e as autoridades sobre a prevenção e o controle da doença, com o objetivo de diminuir o número de mortes causadas pela doença.
Os brasileiros celebram ainda o Dia Nacional de Combate ao Câncer ( 27 de novembro). Criado por meio da Portaria do Ministério da Saúde GM nº 707, de dezembro de 1988, o Dia Nacional de Combate ao Câncer tem como objetivo ampliar o conhecimento da população brasileira sobre o câncer, principalmente sobre a sua prevenção.