Novo presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM) reitera o posicionamento de oposição da bancada ao governo Lula, mas diz estar aberto ao diálogo. Em entrevista ao jornal O Globo deste domingo, 06, Câmara afirma que a ampliação da imunidade tributária às igrejas, prevista na reforma, foi fruto de negociação dos deputados, e não de um aceno do presidente ao segmento. “O governo não atrapalhou, o que já é muito importante”, disse. Veja a entrevista.
Por que os evangélicos rejeitam mais o PT que outros partidos?
Pelas teses e pelas bandeiras que eles insistentemente pregam, que estão na contramão dos princípios da Bíblia Sagrada e do exercício da fé evangélica. À medida que eles insistem nessas teses, há o aumento também da resistência no segmento evangélico.
Quais teses?
As teses conhecidas como aborto, liberação de drogas, casamento de pessoas do mesmo sexo, tributação de igrejas e limitação de liberdade religiosa de culto. Muitas estão no inverso da fé cristã, alinhada na resistência contra o progressismo. Há falta de diálogo antes de decisões. Um exemplo disso é a resolução 715 do Conselho Nacional de Saúde (instância colegiada e deliberativa ligada ao ministério que defendeu recentemente a redução da idade de início de hormonização em transexuais para 14 anos, além da legalização do aborto e da maconha no Brasil). É completamente absurda e na contramão do Congresso, se o governo tivesse dialogado não teria a necessidade de ter dezenas de projetos para derrubar.
Mas Lula fez um aceno recente ao segmento com a expansão da imunidade na Reforma Tributária, não?
Eu acho que não. O governo não se articulou junto da bancada evangélica para que fosse consolidado o que a Constituição já diz sobre a imunidade e também não acresceu de forma clara quais as entidades controladas pelo segmento religioso. O mérito é dos deputados, e o governo não atrapalhou, o que já é muito importante.
A maior parte dos deputados da bancada evangélica tem uma postura de completa oposição ao governo. O senhor manterá essa postura na presidência da Frente?
Fomos eleitos na oposição ao atual governo. A eleição acabou em outubro, e Lula venceu. Na minha avaliação, precisamos manter firme as nossas bandeiras e lutar para que o governo não fira nossos princípios. O diálogo é uma possibilidade? É. Querem dialogar? Estamos abertos. Não querem? Nós temos todas as ferra- mentas dadas pela população através do voto popular para fazer enfrentamento.
Afinal, qual presidente foi melhor para os evangélicos: Lula ou Bolsonaro?
Não estou avaliando quem é pior ou melhor, mas pelos princípios que nós acreditamos. O governo passado acreditava nas nossas bandeiras e o atual governo, não. No entanto, repito, eu acredito que nesse tempo o melhor caminho é o diálogo e entendimento para que possamos trilhar um caminho que produza paz na nação. E para os embates democráticos temos um exército preparado para barrar qualquer tipo de questão que possa ofender nossos princípios.
Na articulação do ministro Cristiano Zanin ao STF, deputados da Frente auxiliaram. A bancada pretende ter influência na próxima indicação à Corte?
Indicação do ministro é prerrogativa do presidente. Como nós não o apoiamos e não temos alinhamento, também não temos nenhum tipo de pretensão ou expectativa de indicação de nada.
Qual é sua opinião sobre essa vertente evangélica associada à extrema direita, como Silas Malafaia e André Valadão?
Eu vejo com naturalidade. O segmento evangélico não é diferente dos outros. As lideranças se posicionarem a favor de A, B e C, é uma coisa natural, afinal, ser líder não tira o direito de cidadania e escolha de ninguém. Não vejo nenhuma dificuldade em termos pastores se posicionando a favor de alas políticas lado a lado, tanto de direita quanto de esquerda.
Na semana em que o PL das Fake News iria ser votado, 18 parlamentares da bancada disseminaram notícias falsas. Qual é o prejuízo disso?
A Frente optou pela não aprovação porque o relatório estava incompleto. Nós queríamos que o texto fosse retirado junto a uma discussão ampla para que pudéssemos ter consciência de que nele havia amarrações necessárias para que houvesse punição para os excessos, mas sem tolher a liberdade de expressão ou religiosa no país. No momento adequado vai ser aprovado, mas com todos os cuidados na relatoria para que as liberdades estejam garantidas.