A demissão de Milton Ribeiro do Ministério da Educação selou a quarta troca no comando da Pasta desde o início da gestão de Jair Bolsonaro, revelando, mais uma vez, a falta de rumo na condução da política educacional pelo atual governo, que não consegue se destacar, nem melhorar o panorama de fracasso deixado por governos anteriores quando à necessária melhoria do quadro atual da educação, que reserva para o Brasil as últimas colocações em importantes indicadores internacionais que medem a qualidade do ensino oferecido às nossas crianças e jovens.
Países que conseguiram disparar na sua economia tiveram a educação como ponto de partida, como a Finlândia,Coreia do Sul, China e outros. Não é o que se vê no Brasil, onde relações de favorecimento a grupos políticos e de interesses e de compadrio dominam a distribuição de verbas aos municípios, como as do Fundo Nacional da Educação (FNDE), hoje controlado pelo Centrão, deixando de lado critérios técnicos e objetivos de longo prazo, executados a partir de um planejamento sério.
Foi o que se viu na demissão de Milton Ribeiro, investigado por tráfico de influência na sua relação com prefeitos, com a intermediação de dois religiosos que agiam dentro da estrutura do ministério, oferecendo facilidades de acesso ao ministro e às verbas da pasta, em troca de propinas, até mesmo em barras de ouro. Para agradar os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, prefeitos faziam pagamentos a eles ou contratavam serviços como a impressão de Bíblias que vinham com a foto do ministro Milton Ribeiro, escândalo que veio à tona em Salinópolis, no Pará.
Líderes evangélicos ficaram entre os primeiros a pedir a cabeça de Milton Ribeiro, após a constatação da prática vergonhosa do toma lá, dá cá nessa área fundamental para o Brasil, que é a educação, e que governos anteriores também não conseguiram resgatar do atraso.
Um número chocante e que se repete a cada edição do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, é a quantidade de estudantes que tiram nota zero na prova de redação, quando devem demonstrar sua capacidade de interpretação e de transmissão de conteúdo. Foram 11% em em 2021, entre os estudantes egressos do ensino médio.
Para o Brasil, que almeja ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países mais ricos do mundo, é urgente melhorar indicadores educacionais como o do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que avalia o desempenho dos estudantes na faixa etária dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países. Entre uma centena de países pesquisados, o Brasil ocupa as últimas posições em áreas como leitura, matemática e ciências e ainda é um dos países com menos pessoas com ensino superior completo e com menores taxas de doutores, com apenas 21% dos brasileiros de 25 a 34 anos com ensino superior completo, ante 44% dos países que fazem parte da OCDE.
Infelizmente, no Brasil, a educação não é considerada prioridade, não recebe a blindagem institucional devida, a exemplo de órgãos como a Receita Federal, a Polícia Federal, o Ministério da Defesa e outros, que não ficam tão ao sabor de interesses políticos e eleitoreiros de grupos políticos como os que passam pelo Ministério da Educação. É preciso que metas de longo prazo definidas com critérios técnicos sejam seguidos com rigor, para que o Brasil possa finalmente dar o salto que tanto precisa.