A falta de clareza nas sinalizações econômicas da equipe de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou a provocar uma piora de humor do mercado financeiro com o governo eleito, avaliam economistas e analistas ouvidos pelo Estadão. Se na primeira semana havia um otimismo, a leitura dos últimos dias é de que o eleito precisa baixar o tom de campanha e apontar com clareza quais serão os passos na economia, sobretudo na área fiscal.
Na semana passada, o mercado financeiro reagiu muito mal às falas de Lula, que em encontro com aliados criticou a estabilidade fiscal e defendeu a ampliação de gastos. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, a B3, que já estava em queda, piorou ainda mais, e o dólar passou a subir com mais força. A moeda norte-americana encerrou o dia em alta de 4,14%, a R$ 5,3966. O Ibovespa recuou 3,35%, aos 109.775 pontos. O mercado brasileiro operou na contramão do resto do mundo.
“Quanto mais o novo governo demora para fazer essa transição, mais o mercado vai ficar nervoso”, diz Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “O mercado está colocando um preço para esse cenário de mais gasto, sem uma fonte de financiamento clara.”
Reversão de expectativas
Já havia uma preocupação em relação ao rumo das contas públicas com a informação de que, na equipe de transição, ganha força a opção de retirar as despesas do Auxílio Brasil do teto de gastos de forma permanente. “As declarações (do Lula) coroam uma percepção de uma mudança dessa linha (mais otimista) da semana passada. Agora, há uma visão de muita preocupação com o que vem pela frente”, diz Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências. “É um movimento que marca uma reversão das expectativas do mercado com o novo governo.”
A equipe do PT trabalha numa Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com o objetivo de furar o teto de gastos para garantir o Auxílio Brasil (que voltará a ser chamado de Bolsa Família) de R$ 600. Nesse cenário de aumento de gastos, a preocupação é de que a nova administração seja parecida com os últimos anos da de Dilma Rousseff, em que houve uma deterioração das contas públicas do País. Na campanha, Lula criticou o teto de gastos, regra que limita as despesas à inflação do ano anterior, mas ainda não indicou qual será a sua política fiscal.
“Cada vez que os sinais vão na linha de deterioração do gasto, mais o governo precisará sinalizar maior responsabilidade com um ministro mais técnico do que político. E talvez isso nem seja garantia, pois vai depender no final de como será desenhada a nova regra fiscal”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.
Para Ricardo Denadai, CEO e economista-chefe da ACE Capital, “esse movimento do mercado é uma combinação de várias coisas: encaminhamento da PEC da Transição bem pior do ponto de vista fiscal com relação ao esperado, indefinição de qual vai ser a equipe econômica e qual é o plano (fiscal) de médio prazo”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.