Depois de ser acusado e “condenado” pela imprensa paulista e também sofrer linchamento virtual pelas redes sociais e aplicativos de mensagens – o que infelizmente está virando rotina na mídia irresponsável brasileira – , o delegado da Polícia Civil de São Paulo, Paulo Francisco Muniz Bilynskyj, foi inocentado pela Justiça da acusação de feminicídio contra a modelo Priscila Delgado Barros, de 27 anos.
O caso ocorreu no dia 20 de maio de 2020, em São Bernardo do Campo, e estava sendo mantido em sigilo, até que foi arquivado pela Justiça paulista, em junho do ano passado, porque o inquérito policial apontou que, em vez de réu, o delegado foi vítima da namorada, que depois de atirar seis vezes nele, acabou se matando. Tudo por ciúmes, diz o processo.
A perícia feita pela Polícia Científica analisou a residência e comprovou por laudos que houve tentativa de assassinato seguida de suicídio, por isso o Ministério Público pediu o arquivamento dos autos. Somente o portal G1 do Globo publicou o arquivamento do processo e o desabafo do delegado.
Em nota, o delegado lembra que foi baleado seis vezes e permaneceu entre a vida e a morte por 11 dias em uma UTI, mas destaca que ficou mais chocado com “a forma criminosa” como foi taxado pela mídia que, sem nenhuma prova, o acusou de feminicida.
Ele afirma que sofreu duas tentativas de homicídio, uma por uma mulher, “outra por todos os repórteres que divulgaram informações falsas e absurdas sobre o caso”. E fala da “falta de honestidade”.
Leia a nota na íntegra:
“No dia 20 de maio de 2020 fui vítima de uma tentativa de homicídio, fui baleado 6 vezes, no peito, mão, braços e pernas. Permaneci entre a vida e a morte por 11 dias na UTI, passei por 3 cirurgias, tive o peito e o abdômen aberto. Passei por um período de recuperação que ainda não se encerrou, recentemente sofri a amputação de um dedo, que tentei sem sucesso reparar com mais de 8 cirurgias.
O que mais me choca foi a forma criminosa como fui taxado pela mídia que, sem nenhuma prova, me acusou de feminicida. O crime praticado contra mim foi apurado por um extenso Inquérito Policial, foram realizadas perícias que em 5 anos como Delegado atuante no Departamento de Homicídios nunca vi serem realizadas.
Em junho de 2021 o Inquérito concluiu o óbvio, que eu tinha sido vítima de uma tentativa de homicídio e que a autora suicidou-se. O Ministério Público opinou pelo arquivamento do caso, tendo em vista a morte da autora. O Juiz do caso determinou o arquivamento.
Por fim, deixo claro que sofri duas tentativas de homicídio, uma por uma mulher, outra por todos os repórteres que divulgaram informações falsas e absurdas sobre o caso.
Sinto-me extremamente decepcionado com a mídia e sua falta de honestidade intelectual. O mínimo que deveriam ter feito era um pedido formal de desculpas pelas falsas notícias divulgadas. Dois anos do fato, um ano da decisão judicial e ainda assim nenhuma palavra.”