“Meu mundo caiu”. Foi assim que uma mãe, moradora de Barra Velha, no Norte de Santa Catarina, definiu a descoberta de que seu filho de 5 anos, diagnosticado com autismo severo (nível 3), apresentava níveis elevados de álcool etílico no organismo. O episódio, que envolve uma escola da rede municipal de ensino, gerou forte comoção e levou à abertura de inquérito pelo Ministério Público (MP) e pela Polícia Civil.
A mãe, que prefere não se identificar, começou a notar sinais incomuns desde o início do ano letivo, em março. “No início, era só um cheirinho, mas começou a ficar mais forte. Quando questionei, a professora disse me que era álcool nas mãozinhas e que evaporava. Mas eu pegava ele às 11h15 e o cheiro só ia embora por volta das três da tarde”, relatou.
Ela descreve que o odor passou a vir não apenas das mãos, mas também da boca e das narinas da criança, permanecendo por horas. “Perguntei para a mãe de um coleguinha dele, com inocência, se ela também sentia esse cheiro de álcool quando buscava o filho e ouvi: ‘Credo, imagina’. Meu coração de mãe não se enganou”.
Exame confirma presença de álcool
No dia 24 de março, movida pela preocupação, ela levou o menino a uma pediatra, que solicitou exames específicos para detectar a presença de álcool etílico. O resultado, entregue no dia 2 de abril, foi devastador: o exame apontou níveis de álcool acima do normal para uma criança da idade.
“Quase desmaiei quando soube. Meu mundo caiu. A médica me explicou que a única condição que poderia causar esse cheiro seria diabetes, mas deu tudo normal no exame. Só havia álcool etílico”, disse a mãe, emocionada.
Segundo ela, o filho apresentava sintomas como tontura, irritação e dificuldades para dormir. Após a confirmação do resultado, ela registrou boletim de ocorrência e acionou o Ministério Público, solicitando, inclusive, o acesso às imagens das câmeras de segurança da escola.
“Até hoje, ninguém da escola me ligou. Nenhuma preocupação verdadeira com o que aconteceu com meu filho”, lamentou. A mãe decidiu retirar o menino da unidade de ensino. A reportagem opta por não divulgar o nome da escola para preservar a identidade da criança e da família.
Investigação pode levar a denúncia por tortura
O advogado Rodrigo Duarte Maia, que representa a família, classificou o caso como grave e afirmou que pode haver enquadramento por tortura, considerando que os episódios não teriam sido isolados.
“Trata-se de uma criança que pode ter sido dopada. Não foi somente um dia, foram mais. Por isso, entendemos como tortura. O Ministério Público e a Delegacia de Polícia já estão a par do caso, tanto que abriram inquérito policial. Agora vamos dar encaminhamento para participar do inquérito e, sobrevindo a ação penal com denúncia, estarei como assistente de acusação”, explicou o advogado.
Prefeitura e órgãos públicos se manifestam
Em nota, a Prefeitura de Barra Velha, por meio da Secretaria de Educação, confirmou que foi aberta uma sindicância investigativa após o recebimento da denúncia. Foram realizadas oitivas com os servidores mencionados, solicitadas imagens do sistema de videomonitoramento da escola e os materiais foram encaminhados ao Ministério Público.
O Ministério Público também confirmou, ao portal ND Mais, que está apurando os fatos. Já a Polícia Civil informou que instaurou um inquérito policial para apurar o crime previsto no artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A norma trata como crime o ato de fornecer, servir, ministrar ou entregar, mesmo que gratuitamente, qualquer substância alcoólica ou outro produto que possa causar dependência física ou psíquica a crianças e adolescentes.
De acordo com a Polícia Civil, a mãe da criança já foi ouvida e entregou os exames que apontam a presença de álcool no organismo do filho. Os documentos agora passarão por perícia para confirmação do teor alcoólico. A criança já foi transferida para outra unidade escolar, a pedido da mãe. A investigação segue sob sigilo, por envolver uma criança.

Do Ver-o-Fato, com informações do NDmais e R7