Uma denúncia de suspeita de estupro, feita pelo Conselho Tutelar de Oeiras do Pará, mudou momentaneamente o rumo dos acontecimentos sobre a morte da pequena Iralice Palheta da Silva, de apenas 6 anos de idade. Ela morreu depois de esperar longo tempo por tratamento médico especializado na capital paraense.
A criança morreu na última quarta-feira (8), dentro de uma embarcação que saiu de Oeiras do Pará, na Região do Baixo Tocantins, nordeste paraense, com destino a Belém. A viagem ocorreu seis dias depois de uma ordem judicial expedida pela Comarca local, que obrigou o Estado a fornecer atendimento médico adequado à criança.
Mas o atendimento médico não foi feito a tempo, nem com equipamentos e assistência adequados. Para a população local, ficou clara a negligência do Estado, assim como da Prefeitura de Oeiras do Pará, no caso da criança, que tinha problemas neurológicos graves, provocados pela doença conhecida como síndrome de Guillain Barré.
Com a denúncia da suspeita de estupro, a Polícia Civil interrompeu o velório da criança, removendo o corpo da menina para a capital, a fim de passar por exame de necropsia. Neste sábado (11), finalmente o corpo foi liberado para sepultamento. O prazo para a conclusão do laudo necroscópico pelo Centro de Perícias Científicas Renato Chaves é de 30 dias.
O delegado-geral da Polícia Civil, Walter Resende, disse hoje pela manhã ao Ver-o-Fato que após a denúncia do Conselho Tutelar, a delegada Renata Gurgel, superintendente da Polícia Civil do Baixo Tocantins, com sede em Abaetetuba, abriu inquérito para apurar o fato e começou a ouvir familiares da menina, bem como médicos, enfermeiros, assistente social, funcionários do hospital municipal e outros servidores da saúde que atendem esses casos.
O que causou estranheza entre os familiares e moradores da cidade foi que a denúncia de suposto estupro só ocorreu depois da morte da criança, após quatro meses de idas e vindas ao hospital municipal, entre internações e altas médicas, em uma agonia que consternou a população. A doença da menina seria síndrome de Guillain Barré, de graves consequências neurológicas.
Família implorou, Estado inerte
Nos últimos dias de vida, com a piora do quadro de saúde da criança, a família implorou por atendimento especializado em um hospital de referência em Belém, sem que fosse ouvida pelos gestores responsáveis pela saúde pública municipal e estadual. Um caso de omissão que exige a interferência do Ministério Público do Estado, até agora de braços cruzados para o problema.
De acordo com informações da família, a suspeita de estupro só teria sido comunicada por uma enfermeira do hospital municipal de Oeiras do Pará ao Conselho Tutelar depois da morte da criança. Depois dessa denúncia, a delegada Renata Gurgel e investigadores da Polícia Civil pousaram na cidade em uma aeronave do Estado.
O pai da criança, Jair Lima da Silva, de 54 anos, disse por telefone que o corpo da filha foi liberado pelo IML e deveria chegar na cidade ainda esta tarde, para ser sepultado imediatamente, sem velório. Segundo ele, o caso da menina é emblemático, porque ela foi vítima do descaso da Prefeitura e do Estado.
“Não foi o único caso de falta de atendimento médico adequado, já ocorreram outros, mas a minha filha morreu e nós temos que impedir que isso ocorra com outra crianças”, disse ele.
Conheça a doença que matou Iralice
A síndrome de Guillain Barré é uma doença autoimune grave, em que o próprio sistema imunológico passa a atacar as células nervosas, levando à inflamação nos nervos e, consequentemente, fraqueza, formigamento nas pernas e nos braços, perda de sensibilidade, alterações na pressão arterial, palpitações e paralisia muscular, podendo ser fatal, já que pode interferir na capacidade de movimentação dos músculos respiratórios.
Relembre o caso
No começo da tarde de quarta-feira, 8, o Ver-o-Fato publicou matéria sobre a gravidade do estado de saúde da menina Iralice, de apenas 6 anos de idade. Após quatro meses de internações e altas do hospital municipal de Oeiras do Pará, sendo que da última vez ela esperou seis dias o cumprimento de uma ordem judicial para ser transferida para um hospital de Belém.
Morreu quando era transportada em uma embarcação, numa viagem de mais de 10 horas até a capital. Nenhuma aeronave do Estado foi disponibilizada para salvar a vida da criança. A balsa, que mal havia deixado o porto de Oeiras, teve de retornar, porque nada mais havia a fazer para salvar a vida de Iralice.
Ficou constatado que houve prolongada demora da Secretaria Estadual de Saúde (Sespa) em autorizar o transporte da criança para tratamento adequado no Hospital da Santa Casa, em Belém. No dia da morte, em vez de uma aeronave, a garota foi colocada dentro de uma ambulância que não continha Unidade de Tratamento Intensivo, exigido para pessoas em estado grave.
O caso provocou indignação na cidade e em todo o Pará. No meio da comoção social surgiu a denúncia de que a menina poderia ter sido vítima de um suposto estupro. O laudo deve sair em 30 dias, mas o delegado-geral, Walter Resende, disse ao Ver-o-Fato que espera ter o resultado dentro de 10 dias. O inquérito policial corre sob sigilo.
Veja Imagens da chegada do corpo em Cametá. Créditos de Leosam Arnoud: