Marco Aurélio era uma máquina espantosa. Nunca adoecera e aos 18 anos já era mestre em aikido. O caso aconteceu logo que começara a fazer estágio, como estudante do curso de Política Internacional da Universidade de Brasília, no gabinete do deputado candango Nonato Domingos, mais conhecido como Mazaropi, e que vivia mais na sua cidade natal, Unaí, município do estado de Minas Gerais, na divisa com o Distrito Federal. Estava sozinho com o deputado no gabinete quando se sentiu mal.
– Vou levar você agora mesmo para ser atendido no Hospital do Corpo – disse o deputado, que era médico e um dos sócios do Hospital do Corpo, na 716 Sul.
Marco Aurélio seguiu-o sem pestanejar, embarcaram no carro do deputado e o motorista rumou para o Hospital do Corpo. “Nome horrível” – pensou Marco Aurélio, que cada vez mais mergulhava numa sonolência completamente desconhecida para ele. Setenta e duas horas depois seu corpo era velado no Cemitério Campo da Esperança. O rapaz era filho de um casal de preletores da Seicho-No-Ie, e uma amiga do casal, a também preletora Maria Augusta, pedira a Apolo Brito para acompanhá-la no enterro. Apolo Brito acabou sendo escalado para ajudar a erguer o caixão e pô-lo no carrinho. Foi o primeiro a pegar numa das alças, erguendo aquela parte sem dificuldade. Arriou o caixão, pediu aos outros três carregadores que aguardassem um instante, abriu a urna funerária e examinou os olhos do rapaz.
– Esperem! – disse, em voz alta. – Aguardem 20 minutos!
Olharam-no espantados.
– Por quê? Não podemos esperar, pois precisamos desocupar o salão! – alguém disse.
– Este rapaz foi assassinado! – disse Apolo Brito, falando a seguir com alguém, ao telefone celular.
Não deu 5 minutos quando um carro da Polícia Civil chegou e dele desceu o delegado Madeira, titular da Primeira DP, sediada ao lado do cemitério. O corpo foi levado para uma sala fechada. Minutos depois o delegado saiu de lá.
– Houve um assassinato. Este rapaz foi assassinado – disse.
Todos estavam atônitos. A mãe de Marco Aurélio desmaiou, e o pai começou a passar mal.
– Voltem para casa, por favor. Amanhã os senhores saberão o que houve – disse Apolo Brito.
Horas depois o deputado Mazaropi estava preso numa cela da Polícia Federal. Ele comandava uma quadrilha de traficantes de órgãos, com ramificações em Unaí; Luziânia, cidade goiana do Entorno do Distrito Federal; Goiânia, a capital do estado de Goiás; São Luís do Maranhão; e Macapá, a capital do estado do Amapá, de onde a quadrilha tinha traficado grande parte do corpo de uma miss.
Apolo Brito conhecia o delegado Madeira de um curso nos Estados Unidos; de vez em quando passava na Primeira DP para bater papo com ele, e assim ficara a par das investigações que estava fazendo sobre a denúncia de erros médicos que estavam ocorrendo no Hospital do Corpo. Ao abrir as pálpebras do estagiário do deputado Mazaropi, Apolo Brito encontrou olhos de vidro. Abriu a camisa do morto e viu que o corpo estava todo costurado. Então associou aquilo à investigação que o delegado Madeira estava fazendo. O caso teve repercussão internacional, pois além da sua natureza aterrorizante, envolvia políticos do PDB.
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