A situação da educação no Pará é alarmante, e o que está em jogo é o futuro de milhares de alunos no interior do estado. Professores da Secretaria de Estado de Educação (Seduc-PA) foram surpreendidos com notícias sobre a possível extinção das aulas presenciais no Sistema Modular de Ensino (SOME). Esse sistema, que existe desde os anos 1980, tem sido uma resposta para a falta de escolas regulares de ensino médio em regiões isoladas. Mas agora, tudo pode estar por um fio.
O SOME é essencial para levar educação a lugares remotos, onde os professores enfrentam realidades difíceis, como viagens extensas e infraestrutura precária. A proposta é simples, mas eficaz: equipes de professores percorrem o interior, permanecendo em comunidades por bimestres e oferecendo aulas presenciais.
Foi uma solução de décadas para garantir que a educação não fosse um sonho inalcançável para jovens ribeirinhos e quilombolas.
No entanto, sob a atual gestão de Hélder Barbalho, com o secretário paulista Rossieli Soares, uma preocupação crescente toma conta da comunidade escolar. A denúncia de que a modalidade SOME pode ser gradualmente substituída por uma “central de mídia” é um golpe para os educadores que conhecem a dura realidade dessas regiões.
Imagine: salas de aula com um único professor mediador, enquanto as lições são transmitidas de estúdios em Belém. Quem vive nessas localidades sabe que isso é irreal. Falta energia elétrica de qualidade, e até o básico é um desafio.
Falta de infraestrutura e ameaças diárias
Em regiões como a ilha no rio Anapu, há relatos de escolas sem energia desde setembro, obrigando professores a imprimir atividades com o próprio dinheiro e improvisar aulas para não abandonar seus alunos. E a precariedade não é o único problema: em Santa Maria do Icatu, a violência e até crimes hediondos nas dependências escolares forçam o cancelamento de aulas presenciais.
Há ainda abusos sexuais, incêndios criminosos e ameaças constantes – como se a educação já não fosse suficientemente difícil.
O cenário é ainda mais assustador com o avanço do crime organizado em algumas dessas localidades, comprometendo a segurança dos alunos e dos professores. O que o governo do estado propõe? Um sistema tecnológico que parece mais uma ideia desconectada da realidade, com salas de aula assistindo a vídeos gravados.
Quem se beneficia de um sistema assim, que enriquece empresas de produção audiovisual enquanto comunidades inteiras lutam para sobreviver?
Desespero dos educadores
Educadores não estão só preocupados com seus empregos, mas com o impacto devastador que essa mudança pode ter. Eles defendem um modelo que já transformou vidas. Ex-alunos do SOME tornaram-se profissionais respeitados, como o ex-secretário de saúde de Igarapé-Miri. Mesmo em meio a dificuldades extremas, esse sistema produziu resultados, levando muitos a universidades e oportunidades que antes eram inimagináveis.
O questionamento é justo: como um professor mediador, assistindo a vídeos, vai oferecer o mesmo nível de ensino? E como isso resolverá os problemas estruturais? A educação no Pará parece estar caminhando para um abismo. A comunidade não precisa de “tecnologias de fachada”; precisa de investimentos reais, de compromisso com o futuro.
Manipulação de índices e promessas vazias
A denúncia de que os números do Ideb estão mascarados é mais uma prova do abismo entre a propaganda e a realidade. Um sistema de televisão em salas de aula não é a resposta. Precisamos encarar os fatos: essa proposta não substitui o contato humano e o aprendizado ativo. Ela aliena ainda mais os alunos, já tão distantes de uma educação de qualidade.
Os desafios da educação no Pará são reais e urgentes. O que estamos presenciando é um verdadeiro atentado ao futuro de crianças e jovens que merecem muito mais do que promessas vazias e soluções mal planejadas. É hora de repensar as prioridades, porque, sem educação de qualidade, quem realmente perde é o Pará inteiro.














