ADVERTISEMENT
É inacreditável, não estivéssemos no Pará, onde a tranca só trava a porta depois de ela ter sido arrombada, que um navio naufragado no dia 06 de outubro de 2015 – quase quatro meses depois do acidente em que morreram 5 mil bois -, ainda repouse lépido e faceiro no fundo do Rio Pará, mais precisamente no porto de Vila do Conde, em Barcarena.
Passado o festival de promessas para que o navio Haidar fosse içado e se cuidasse de dar uma destinação decente e segura para as carcaças, resíduos, óleo e chorume que ainda se encontram dentro da embarcação naufragada, o que se vê e se ouve em Vila do Conde, além do barulho das ruas em volta, gritando e exigindo por uma solução, é um silêncio ensurdecedor, que ecoa até em Belém. Um silêncio, diga-se de passagem, marcadamente doloso.
De concreto, o que foi feito para compensar os danos sociais e ambientais provocados pela tragédia às dezenas de comunidades da região? Resposta: pouca coisa, quase nada. O que mais se viu foi pirotecnia política. Até o ministro dos Portos, Helder Barbalho, apareceu por lá, distribuindo cestas básicas, um sorriso maroto e demagogia. O governador Simão Jatene, por sua vez, nem isso fez. Ele simplesmente não deu as caras em Vila do Conde, como se o porto não ficasse em território por ele governado. Uma lástima.
Aliás, a providência de mandar enterrar cerca de 400 bois num terreno arrumado às pressas, pagando-se R$ 10 milhões a uma empresa de Ananindeua, foi outra medida que revelou-se paliativa. Tanto que o Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e Defensoria Pública, na ação judicial impetrada em dezembro passado, pedem que as carcaças sejam desenterradas e levadas a outro lugar para incineração.
A verdade é que, hoje, nada se fez e nada se faz, a não ser criar dificuldades burocráticas e adoçar a mídia com palavras que mais confundem que explicam – só para lembrar o velho palhaço Chacrinha -, para devolver limpas à população as praias interditadas, indenizar os enormes prejuízos de quem perdeu trabalho e renda, restabelecer com segurança a navegação no porto, e levar para bem longe a carga sinistra ainda contida dentro do navio.
Ultimato – A única providência sensata, correta e urgente, tomada até agora, veio do capitão dos Portos do Pará e Amapá, o capitão-de-mar-e-guerra, Aristide Carvalho Neto. Num edital de intimação publicado no último dia 18 na imprensa – uma informação importante que passou batida dos pauteiros dos jornais – Carvalho Neto deu prazo de 15 dias para que o navio Haidar seja retirado do fundo do rio.
O chefe da Capitania dos Portos cita na intimação, publicada no Diário Oficial da União, as empresas Sleiman Co & Sons, na pessoa de seu proprietário, Hussein Sleiman, e do comandante do navio, Abdulrahman Barbar; Tamara Shiping, armadora; e a seguradora Al-Bahriah Insurance & Reinsurance S.A.L.
Caso os proprietários e a seguradora não retirem o navio do fundo no prazo determinado, a Capitania avisa que eles serão penalizados pela lei, que determina a perda da embarcação, além de se responsabilizarem por perdas, danos, e indenização das despesas de remoção do navio.
“A permanência da referida embarcação no local onde se encontra naufragada, constitui-se em perigo à navegação, agravamento dos danos de terceiros e ao meio ambiente e prejuízos à atividade portuária, decorrentes do impedimento do uso dos berços de atracação”, diz o capitão da Marinha, na justificativa da intimação.
É assim que se trabalha.
Discussion about this post