A campanha Novembro Azul, tradicionalmente dedicada à conscientização sobre o câncer de próstata, também está trazendo à tona uma realidade pouco discutida: o câncer de pênis. Apesar de raro, o câncer representa um grave problema de saúde pública, associado a fatores como vulnerabilidade social e tabus culturais relacionados à higiene íntima masculina.
Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em 2022 foram registradas 651 amputações e 454 óbitos decorrentes da doença no Brasil. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que o câncer de pênis corresponde a 0,4% de todos os tipos de câncer entre homens brasileiros, sendo mais frequente nas regiões Norte e Nordeste. Entre 2012 e 2022, o Ministério da Saúde contabilizou mais de 21 mil casos diagnosticados, 6 mil amputações (2013-2023) e mais de 4 mil mortes (2011-2021) relacionadas à doença.
Uma realidade alarmante no Norte e Nordeste
A incidência da doença é agravada por fatores regionais e socioeconômicos. O Hospital Ophir Loyola, referência no tratamento oncológico no Pará, atendeu mais de 250 pacientes com câncer de pênis entre 2021 e 2024, realizando 87 penectomias (remoções totais ou parciais do órgão) nesse período.
O urologista reconstrutor do hospital e presidente da Sociedade Brasileira de Urologia do Pará, Luis Otávio Pinto, ressalta que muitos casos poderiam ser evitados com diagnósticos precoces e campanhas educativas. “Frequentemente, os pacientes só procuram ajuda médica quando o câncer já está em estágio avançado, o que torna impossível preservar a estrutura do órgão. A maioria vem de áreas mais isoladas, como as regiões de ilhas”, explicou o especialista.
Pinto também destacou que, no Pará, o câncer de pênis é um dos três tumores urológicos mais comuns, junto com os de próstata e bexiga. “A taxa de incidência é muito próxima à do câncer de rim”, observou.
Tabu e falta de informação
A prevenção do câncer de pênis está diretamente ligada à higiene adequada da região íntima, um tema que ainda é tabu em muitas comunidades. Além disso, a falta de acesso à informação e assistência médica precoce agrava o problema.
“Campanhas como o Novembro Azul são fundamentais para ampliar a conscientização e desmistificar esse tema. É preciso reforçar que a higiene íntima e a consulta regular com um urologista são passos essenciais na prevenção da doença”, concluiu o especialista.
O foco da campanha é não apenas reduzir a incidência da doença, mas também combater as desigualdades sociais e culturais que limitam o acesso à saúde masculina. A mensagem é clara: cuidar da saúde íntima é fundamental e pode salvar vidas.
Do Ver-o-fato, com informações do www.ophirloyola.pa.gov.br