A Seleção Brasileira viveu uma noite amarga em Tóquio. Pela primeira vez na história, o Brasil perdeu para o Japão — e de virada. O revés por 3 a 2, nesta terça-feira, não apenas quebrou um tabu que durava décadas, como também escancarou fragilidades já conhecidas, principalmente na defesa. Apesar de Fabrício Bruno ter protagonizado erros decisivos nos gols japoneses, a derrota não pode ser colocada inteiramente em seus ombros. O tropeço reflete heranças de um ciclo conturbado, marcado por anos de atuações irregulares, más escolhas e uma entre safra de jogadores que ainda não conseguiu repor a qualidade de gerações passadas.
A derrota, no entanto, pode ser mais valiosa do que a goleada de 5 a 0 sobre a Coreia do Sul, na partida anterior. A virada em Tóquio expôs fraquezas, mas trouxe lições importantes a menos de um ano da Copa do Mundo. O técnico Carlo Ancelotti, mesmo diante do resultado, vem conduzindo o processo de reconstrução da Seleção com serenidade e coerência.
O treinador tem buscado montar uma base sólida, testando jogadores em posições carentes e experimentando novos esquemas. A ausência de um centroavante fixo, por exemplo, tem levado Ancelotti a apostar em Vini Jr mais centralizado e em uma movimentação mais fluida do ataque. Ele também acerta ao escolher adversários de diferentes estilos, o que amplia a capacidade de adaptação da equipe. Depois dos asiáticos, o Brasil enfrentará seleções africanas (Senegal e Tunísia) e, em março, europeias (possivelmente França e Holanda), em uma preparação que cresce em grau de dificuldade.
Diante do Japão, Ancelotti promoveu várias mudanças em relação à goleada sobre a Coreia. Apenas Casemiro, Bruno Guimarães e Vini Jr permaneceram no time titular — uma sinalização de que esses nomes formam a espinha dorsal da equipe. A principal novidade foi Lucas Paquetá, que deu mais fluidez ao meio-campo, alternando entre apoiar o ataque e participar da construção de jogadas.
O primeiro tempo mostrou um Brasil criativo e eficiente. Bruno Guimarães e Paquetá deram passes precisos que resultaram nos gols de Paulo Henrique e Gabriel Martinelli, respectivamente. O controle parecia total até o intervalo.
Mas o cenário mudou completamente na etapa final. Aos seis minutos, Fabrício Bruno errou uma saída de bola e entregou para Minamino descontar. O lance incendiou o Japão, que cresceu na partida e começou a pressionar. Pouco depois, aos 16, veio o empate em um chute de Nakamura que desviou justamente no zagueiro brasileiro antes de entrar. E, aos 24, Ueda completou a virada ao vencer Beraldo pelo alto.
Ancelotti tentou reagir com substituições — Joelinton, Rodrygo e Matheus Cunha entraram —, mas o Brasil se mostrou desorganizado, sem criatividade e vulnerável defensivamente. Nos minutos finais, o time ainda tentou o empate, mas sem sucesso.
Mais do que o resultado em si, o jogo deixa questionamentos que Ancelotti precisará resolver. Por que a equipe perdeu intensidade no segundo tempo? O que explica a falta de mobilidade ofensiva? Como equilibrar a ousadia no ataque com a solidez na defesa?
Com o relógio correndo e apenas duas convocações restantes antes da definição do elenco para a Copa, as respostas precisarão vir rapidamente. O Brasil vive um processo de reconstrução inevitável — e derrotas como a desta terça, embora dolorosas, são parte desse aprendizado.















