O bombardeio conduzido pelos Estados Unidos contra as principais usinas nucleares do Irã — Isfahan, Natanz e Fordow — não representa apenas uma ação militar de alta intensidade. É uma ruptura estratégica e uma aposta arriscada para o equilíbrio global. A operação batizada de Martelo da Meia-Noite, executada com bombas “bunker buster” e bombardeiros invisíveis B‑2, não eliminou completamente o programa nuclear iraniano, mas, segundo a cúpula militar dos EUA, atrasou substancialmente suas ambições.
Se para Donald Trump o programa nuclear iraniano foi “obliterado” e para o secretário de Defesa, Pete Hegseth, esta foi uma ação “perfeita” e definitiva, para o chefe do Estado‑Maior das Forças Armadas, general Dan Caine, e para o vice‑presidente JD Vance, a realidade parece mais complexa: não se destruiu completamente o programa iraniano, mas foi possível prejudicá‑lo “de maneira significativa”.
A distância entre o discurso triunfalista e a prudência técnica reflete uma operação cuja magnitude não impede a incerteza estratégica. Os EUA mobilizaram mais de 125 aeronaves para lançar 75 munições guiadas, das quais 14 bombas MOP de 13 toneladas, capazes de destruir bunkers profundos e reforçados. O impacto direto não deixa dúvidas: foi o maior emprego de bombardeiros B‑2 da história e uma clara mensagem de Washington não só para Teerã, mas para todas as potências que flertam com a arma nuclear.
Apesar do impacto técnico-militar, as implicações para o equilíbrio global são alarmantes. O Irã, longe de se render, promete responder “com todos os meios necessários” e não poupa adjetivos para qualificar o episódio: uma “grave violação do direito internacional” e uma ruptura com as normas do Tratado de Não Proliferação Nuclear.
Os ataques a alvos civis ou estratégicos no Irã não poderão simplesmente ser isolados do contexto mais amplo. Os mísseis iranianos que atingiram áreas no norte e no centro de Israel após o episódio são uma amostra clara de uma escalada que ameaça engolfar toda a região.
A ONU alerta para uma “escalada perigosa” e uma possível “catastrófica espiral de violência”. A União Europeia pediu calma e negociações, enquanto o Reino Unido e a França tentaram dosar o apoio a Washington com apelos por uma solução diplomática para o impasse. Já a Rússia e a China condenaram o episódio, classificando-o como uma violação grosseira do direito internacional e alertando para as imprevisíveis implicações para a segurança global.
Em uma atmosfera tão volátil, o Oriente Médio parece caminhar para uma nova era de conflito, enquanto as instituições internacionais são desafiadas a preservarem uma ordem global cada vez mais tensionada e frágil. Os ataques não encerram uma crise; ampliam-na para uma batalha de nervos e forças cujas ramificações poderão redefinir as fronteiras da paz e da guerra no século XXI.
Se o objetivo era desferir um golpe estratégico contra o programa nuclear iraniano, o episódio deixa uma certeza e uma dúvida: o Oriente Médio não sairá ileso dessa ação, e o custo para a estabilidade global só poderá ser avaliado quando a poeira do impacto começar a assentar.