O presidente Jair Bolsonaro era esperado em Soure, no Marajó, neste sábado, 03, mas não apareceu. Ele cancelou a visita, mas não evitou protestos com faixas e cartazes pelas ruas. Espalhadas da vizinha cidade de Soure, Salvaterra, à Curralinho, no Marajó Ocidental, as peças trazem mensagens como “Abrace o Marajó: na sua frente, cestas básicas; nas suas costas, sangue, trator e boi” e “Fome, mortes, mentiras, negacionismo, Abrace o Marajó: uma grande ilusão!”.
Bolsonaro participaria de atividades com empresários e fazendeiros da região, em função do programa Abrace o Marajó, construído pelo governo federal com o apoio das Federações das Indústrias, da Agricultura e da Pecuária do Pará ( Fiepa e Faepa). Mas se o presidente não veio, quem deu as caras foi a ministra Damares Alves, figura fundamental na articulação política do governo com lideranças evangélicas neopentecostais, que desde o começo da semana está em Soure, realizando agendas políticas e eleitorais, como uma “búfalociata” – desfile de búfalos.
Segundo os organizadores do protesto, Damares está alinhada aos esforços do próprio presidente de causar aglomerações a despeito das medidas dos governos estaduais e municipais de combate à pandemia. Na programação da visita, que contou com uma comitiva de 30 pessoas e orçamento não divulgado, não há a participação de nenhuma organização da sociedade civil local ou associação comunitária.
Na última semana, mais de 60 entidades do Marajó, do Pará e do Brasil publicaram “nota de posicionamento”, apontando que o programa fora construído sem participação popular para “facilitar esforços de desapropriação de comunidades tradicionais, grilagem de terra e transformação do açaí em um produto destinado à exportação, não à alimentação e subsistência das populações extrativistas”.
Depois de ameaças feitas por um policial militar de Soure a manifestantes circularem nas redes sociais na última semana, ativistas de todo o Marajó se mobilizaram em rede para realizar a ação e mostrar a insatisfação do povo marajoara com as ações excludentes do governo federal.
Em Soure, manifestações têm assumido várias formas, incluindo um carimbó musicado por Mestre César que pergunta “É Abrace o Marajó? Ou é aperto de mão? Não convidaram o povo, só os empresários da região!”. Um novo manifesto foi articulado, reforçando as denúncias de exclusão e elitismo do programa que vêm sendo feitas repetidamente, mas que o governo federal ainda não se manifestou, mesmo a Defensoria Pública da União tendo publicado nota técnica no mesmo sentido, em março passado.
Na última semana, a deputada federal Vivi Reis, do PSOL, aprovou na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e Amazônia da Câmara de Deputados a realização de uma audiência pública para tratar do Programa do Governo Federal e as denúncias da sociedade civil.
