O presidente da República, Jair Bolsonaro, disse nesta sexta-feira, 30, que passou os últimos dois meses buscando “alternativas” à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. “Como foi difícil ficar dois meses calado, buscando alternativas”, afirmou o chefe do Executivo em uma live de pouco mais de 50 minutos no último dia útil de seu governo.
Bolsonaro usou mais uma vez o termo “quatro linhas da Constituição”, uma de suas marcas, para falar sobre sua conduta durante o pleito. “Mesmo dentro das quatro linhas da Constituição, você tem que ter apoio”.
Ele negou que tenha sido procurado para fazer algo “errado” e completou que “certas medidas têm que ter apoio do parlamento, do Supremo, das instituições”. “Busquei dentro das quatro linhas se tinha alternativa para isso aí”, ressaltou, sobre tentativa de anular a votação encampada pelo partido sobre o qual está atualmente abrigado, o PL.
Adotando um tom emotivo, mas visivelmente abatido, Bolsonaro buscou reanimar a militância, que vem lhe cobrando uma participação mais ativa. Desde que não conseguiu se reeleger, o presidente abandonou até mesmo as lives semanais que marcaram seu mandato.
Claramente falando para seus apoiadores, Bolsonaro mais uma vez não parabenizou Lula pela vitória, tampouco reconheceu claramente sua derrota, e manteve a coerência em seu discurso, porém, com uma retórica menos agressiva contra figuras que tomou como adversárias ao longo dos últimos anos.
Ele, por exemplo, voltou a falar que as eleições não foram isentas e colocou em xeque a isenção da Justiça Eleitoral. “Voto você vê pelas ruas; levamos multidões para as ruas. Esperanças de vitória eram palpáveis. Fomos massacrados no horário eleitoral. Tivemos medidas adotadas pela Justiça Eleitoral que ninguém conseguia entender. Obviamente não foi uma campanha imparcial”, alegou.
Aliados do presidente esperam que ele se coloque como uma voz da oposição no próximo governo, mas têm se desapontado com sua postura desde o fim das eleições, quando ele decidiu se recolher Agora, o presidente deve viajar aos Estados Unidos, onde pretende, conforme pessoas próximas, passar alguns meses.
Bolsonaro se emocionou e disse que chegou ao cargo com “um propósito” e afirmou que “não vai demorar muito tempo para o Brasil voltar para normalidade”.
Ele pediu ainda que a militância mantenha a calma: “Quando alguém faz algo que você não gosta, não vá para o ataque, não vá para a ameaça.”
Balanço de governo, críticas, etc
Nessa última live como presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) fez um balanço dos últimos quatro anos em que esteve à frente do governo e comentou sobre a situação política do país. Na lista de feitos do seu mandato, entre outras ações, ele destacou a privatização da Eletrobras e o controle da inflação por meio da redução dos preços dos combustíveis.
“Empresas que não davam lucro foram privatizadas, como foi o caso da Eletrobras. No controle da inflação, junto com o parlamento e não na ‘’canetada’, zeramos os impostos federais sobre combustíveis, o que gerou deflação”, disse Bolsonaro.
Na transmissão feita pelas redes sociais, o presidente da República repudiou atos que classificou como “terroristas”, ao comentar o fato de um apoiador dele articular um atentado a bomba no aeroporto de Brasília.
Esta é a primeira vez que Bolsonaro participa de uma live após semanas de silêncio. Desde que foi derrotado nas eleições deste ano, o futuro ex-presidente adotou uma agenda reclusa, com poucos compromissos oficiais e raras aparições públicas.
“Nada justifica ato terrorista (exemplificou com o assassinato em Foz Iguaçu, briga de bolsonarista e contador do PT). A mídia massifica como bolsonarista, é maneira da imprensa de tratar. A mesma que fala em liberdade de imprensa e hoje aplaude a falta de liberdade que vivemos hoje”, criticou Bolsonaro ao dizer que a mídia classifica de atos terroristas os feitos de apoiadores do presidente.
Bolsonaro também criticou o que chamou de “falta de liberdade”.
“Nossas liberdades estão sendo tolhidas. Hoje em dia, as pessoas ficam com receio de escrever uma mensagem no ZAP (WhatsApp) e até os médicos ficam impedidos de serem livres para passar o tratamento. Nós vamos adotar a defesa da liberdade como uma luta do povo brasileiro”, pregou o presidente, ao lembrar da defesa de tratamentos sem comprovação científica para combater a covid-19, durante a pandemia.
Ao concluir a primeira parte da live, Bolsonaro lamentou a morte do ex-jogador Pelé, que morreu ontem (29). “Uma pessoa simples que levou o nome do Brasil aos quatro cantos do mundo. Hoje o mundo todo chora o passamento do Pelé. E nós lamentamos também aqui, publicamos 3 dias de luto oficial pelo passamento do nosso Pelé. E que Deus em sua infinita bondade o acolha no céu”, afirmou.
Derrota nas urnas
Ainda durante a live, Bolsonaro lamentou a derrota nas eleições e acusou o processo eleitoral de ter agido com parcialidade durante o período eleitoral.
“As esperanças da vitória eram palpáveis, veio o programa eleitoral gratuito e fomos massacrados com mentiras da outra parte, como vai acabar com 13º e não vai ter mais hora extra. Acusações absurdas. E a questão das rádios tinha mais espaço para um candidato do que para outro. Tinham certas medidas adotadas pelo sistema eleitoral que ninguém conseguia entender, fui proibido de fazer live em casa. Foi uma campanha imparcial? Obviamente que não foi imparcial, foi parcial. E então tivemos o resultado do 2º turno, 50,9% contra 40,9%. Se você duvidar da urna você tá passível de repetir o processo, isso é crime. Mas tudo bem, não vamos duvidar das urnas aqui”, falou Bolsonaro. O presidente recebeu, na verdade, 49,1% dos votos válidos.
Bolsonaro também criticou a participação de algumas delegações estrangeiras na posse de Lula neste domingo. “Vocês estão vendo quem deve comparecer aqui domingo, lá na Presidência por ocasião da posse. Os nomes dos chefes de Estado aqui da nossa região. O Maduro vai se fazer presente, o Boric, o Ortega. Isso é um mau sinal, onde esse pessoal assumiu, o país ficou pior”, criticou. Fontes: O Estado de São Paulo e Correio Braziliense.
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