Às vésperas da COP30 — que terá início na próxima semana em Belém — o empresário e bilionário norte-americano Bill Gates, fundador da Microsoft e hoje um dos principais financiadores privados da inovação climática no mundo, lança um alerta direto aos chefes de Estado que desembarcarão na cidade.
Em artigo publicado nos Estados Unidos, Gates afirma que as cúpulas climáticas estão presas em um ciclo de promessas enquanto as emissões globais continuam crescendo. “Precisamos parar de confundir metas com progresso.” O texto, em tom de cobrança, é um recado direto para os líderes que virão à Amazônia: não faz sentido repetir acordos que não alteram a realidade do planeta.
Belém — que receberá cerca de 40 mil participantes, entre delegações oficiais, pesquisadores, empresários e ativistas — é palco estratégico para essa virada. Para Gates, a COP30 tem de sair do campo simbólico e entrar no terreno da engenharia e da inovação.
Por que a fala de Gates importa para o Pará
A Amazônia é frequentemente tratada como um “cenário bonito para discursos climáticos”. Gates desmonta essa lógica. Ele afirma que não existe solução climática global sem desenvolvimento econômico local. “É injusto pedir que regiões em desenvolvimento abram mão do crescimento.”
A crítica atinge em cheio o modelo adotado por países ricos, que cobram metas ambiciosas de conservação ambiental sem garantir financiamento e tecnologia aos países que detêm florestas e biodiversidade — como o Brasil.
Belém, nesse contexto, deixa de ser apenas o local do evento e se torna símbolo do dilema global: o mundo exige preservação, mas pouco discute meios concretos para transformar a bioeconomia da Amazônia em riqueza real para quem vive nela.
As três verdades duras de Bill Gates — agora com impacto direto na COP30
1. O planeta nunca emitiu tanto carbono quanto agora – Apesar de 29 conferências anteriores e milhares de resoluções, as emissões continuam crescendo. O empresário critica a cultura da meta vazia: “Metas não reduzem emissões. Investimentos e tecnologia reduzem.”
2. Não basta pedir que as pessoas consumam menos – Gates afirma que a transição verde só vai acontecer quando produtos e energia limpos forem mais baratos que os poluentes.
Isso tem total ligação com a Amazônia: para desenvolver a bioeconomia, o Pará precisa de tecnologia acessível, não apenas de promessas financeiras internacionais que nunca se materializam.
3. Países pobres não podem pagar a conta do clima – Gates enfatiza que bilhões de pessoas no mundo ainda não têm energia confiável — e que a transição precisa incluir desenvolvimento regional, não bloqueá-lo.
Belém será o palco onde essa disputa política ficará explícita: quem paga a conta da descarbonização mundial?
Amazônia: do discurso ao investimento
Para o Pará, que tenta consolidar um modelo de bioeconomia baseado em ciência, florestas em pé e geração de renda para comunidades locais, Gates toca num ponto essencial: “A inovação precisa chegar ao chão da floresta.”
Isso significa: tecnologia para produção sustentável de alimentos, industrialização de produtos florestais no próprio território, energia limpa para comunidades isoladas, qualificação de mão de obra local.
Ou seja, não basta preservar. É preciso transformar a biodiversidade em riqueza para quem vive na Amazônia.
O que Belém pode entregar ao mundo
A COP30 será a primeira conferência climática realizada no coração da Amazônia. E Gates sugere que a cidade seja mais do que palco: “A COP30 tem a chance histórica de mudar a pergunta: não ‘o que queremos alcançar?’, mas ‘como vamos alcançar’.”
Se a conferência conseguir: atrair investimentos reais, conectar ciência e tecnologia a comunidades amazônidas, estimular inovação na bioeconomia, Belém poderá entrar para a história como a COP da execução, e não a COP do PowerPoint.
Um recado de cobrança e esperança.
Se Belém entender seu papel — o de exigir que promessas se transformem em investimentos, tecnologia e empregos — a COP30 pode ser lembrada como o momento em que a Amazônia deixou de ser tratada como paisagem e passou a ser tratada como protagonista da economia do futuro.
“A luta contra o clima não será vencida com metas. Será vencida com tecnologia — e com oportunidades reais para as pessoas”, finaliza o bilionário americano.
*Carlos Mendes é jornalista profissional e editor do Ver-o-Fato







