De repente, um barulho estrondoso na lataria do meu carro. Logo pensei: não paguei o flanelinha ou estacionei na frente de uma garagem. Desci e não tinha garagem e o flanelinha estava bem longe e de papo furado com o segurança de um hotel. Olhei com um pouco mais de atenção e vi que havia um amassado em forma de bola. Ao lado, uma pequena e destruidora manga.
Só de raiva, como forma de vingança e honra, aproveitei o sinal fechado e peguei a manga no meio da rua. Não importa se uma plateia me olhava ou se parecia um esfomeado, aliás, nem de manga eu gosto, mas o que vale é a satisfação de pegar aquele fruto que cruzou o destino da noite de chuvisco. No passado, alguns voltavam para seu reino com a cabeça do inimigo. Eu volto com a manga que ousou amassar meu carro. São novos tempos, é tempo de manga.
Quem se arrisca no meio da Av. Nazaré atrás de manga, sempre tem uma inspiração na coragem que essa atividade requer. Meu principal espelho de ousadia, proatividade e cara de pau é um motorista da linha Tamoios. Em plena Av. Gentil, naquele engarrafamento bonito das 18:30, ele para o ônibus sem mais nem menos. Quando todos achavam que era por conta de problemas mecânicos e já se preparavam para descer, eis que ele corre até a calçada para pegar um tijolo em formo de manga bem amarelinha.
Apesar da boniteza do fruto, os passageiros não tardaram a hostilizar o motora que, por sua vez, voltou ao local de trabalho sorrindo. Alguns soltaram: “égua, não tem comida na tua casa? seu esfomeado”. No fundo, o povo gostou.
A temporada de manga serve a todo tipo de prazer. Tinha uma amiga de trabalho que pegou não sei quantas licenças depois de informar que uma manga caiu na sua cabeça. Toda vez que ela esquecia algo ou fazia um erro de português, botava culpa no cometa mangueiroso que bateu no seu cabeçote. Também tem uns caras que passam apanhando tudo com umas varas enormes. É o extrativismo na metrópole.
Tem gente que enfrenta a vergonha e vai pegar a sua. Tem outras que já são sem vergonha e, além de ir buscar, tacam logo uma bocada segura e detonam logo ali mesmo. Há quem diga que se uma manga cair por perto, no exato momento do seu passeio, é sinal de sorte. Só pode, porque se cair em cima de alguém, com certeza é azar.
Esse ano elas estão com tudo, caindo a qualquer chuvinha ou vento forte. Cuidado com teu carro, mas se pegar nele, faz igual eu, come ou leva para tua coroa.
Manga gera felicidade.
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