Em consequência da desorganização do sistema de saúde pública de Belém e do Pará, desde o início deste ano de 2023 um usuário procura o posto do bairro do Marco para conseguir uma consulta e um exame médicos, mas não consegue.
A desculpa que os servidores são obrigados a dar é de que o sistema que conectava o posto do Marco, mantido pelo estado, ao departamento de regulação da prefeitura de Belém, foi trocado desde novembro do ano passado e o novo não foi instalado até agora.
Segundo os funcionários do posto, o sistema antigo, Sisreg, usado para regular consultas e exames pelo Departamento de Regulação da Prefeitura de Belém, foi tirado de operação desde novembro de 2022.
Desde então, decorridos cinco meses, o novo sistema, SER, não foi implantado. Ninguém soube dizer o motivo, mas os servidores não conseguem disfarçar o desconforto com a situação quando são cobrados pelos usuários.
Enrolação e burocracia
“Eles mandam a gente voltar dentro de 30 dias, mas avisam que não podem garantir nada se o sistema não estiver funcionando”, disse uma moradora da área que esteve no posto nesta quinta-feira (4), em busca de atendimento.
A mesma desculpa foi dada para outro usuário, que procura há cinco meses marcar um exame de elastografia hepática para o filho, que é portador de hepatite autoimune.
Cansado de tanto descaso, o usuário procurou o Departamento de Regulação da Prefeitura para buscar explicações, pois o exame é muito importante para avaliar o estado de saúde do filho.
Desta vez, depois de ouvir atentamente o usuário, um servidor o aconselhou a procurar o Ministério Público, explicando que é a única saída para conseguir o exame, que só é feito na Santa Casa.
O funcionário detalhou que nem adiantaria procurar outro posto de saúde para começar tudo de novo e ser regulado, porque o paciente é morador do bairro do Marco e, portanto, só pode ser atendido no posto do Marco.
É bom destacar que os serviços de saúde estão sendo feitos em dependências da Universidade do Estado do Pará (Uepa) há muito tempo, desde que o prédio antigo do posto do Marco foi desativado e se encontra abandonado pelo estado, caindo aos pedaços. O posto deveria servir como extensão dos cursos da área de saúde da Uepa, mas nem para isso serve mais.
Desmonte da saúde
Já faz tempo que os moradores e moradoras da Região Metropolitana de Belém vêm notando que o sistema público de saúde está sendo desmontado irresponsavelmente pelas gestões desastrosas que se sucedem, voltadas mais para sustentar interesses e barganhas políticas do que para atender o verdadeiro financiador do sistema, o usuário.
Qualquer pessoa que precisou nos últimos anos dos serviços da rede pública de saúde enfrentou algum tipo de dificuldade, tanto para conseguir consulta, marcar exame ou receber medicamentos que o estado tem obrigação de fornecer.
Todos observam impotentes que falta investimento, treinamento, gestão de qualidade e, principalmente, humanização da saúde, o principal fundamento preconizado pelo SUS.
Deve se repetir que, é visível, a saúde pública não está sendo gerida por técnicos qualificados, mas por pessoas indicadas por políticos, que não tem compromisso com quem os elegeu, apenas cuidam dos próprios interesses.