A cena é emocionante. A moradora que filma a derrubada da árvore grita e chora ao vê-la no chão. Mais um capítulo da insensatez empresarial e imobiliária que desfila em Belém do Pará. A insensatez, no caso, tem nome pomposo: Village. O vídeo de uma samaumeira centenária de grande porte sendo derrubada no bairro de Batista Campos, em Belém, circulou pelas redes sociais, ontem, 23.
” Uma cidade quente como Belém, infelizmente, vai virar um prédio, olha, olha, aí Jesus, oh meu Deus, oh meu Deus”, diz a moradora no vídeo, no momento em que a árvore vem abaixo.
A árvore fica em um terreno na avenida Conselheiro Furtado, que pertence à uma construtora Village. O pior é que o Ministério Público do Pará (MPPA) havia emitido, em maio deste ano, uma recomendação à construtora Village para que o vegetal fosse incluído no projeto de construção imobiliária. O G1 tentou contato com a empresa, mas não obteve retorno.
À época, o MPPA havia informado que “tal vegetal deve ser preservado, com comprovação de sua inserção no projeto, sendo que há, rumores de que a empresa teria intenção de promover sua retirada, mesmo sem possuir autorização de supressão pelo órgão responsável”.
Para o historiador Michel Pinho, a derrubada é “desrespeito à herança ancestral da cidade”. “Esse respeito deveria ser uma marca, uma característica de uma cidade que se propõe a ser a capital da Amazônia, mas ninguém respeita o patrimônio seja ele histórico, seja florestal”.
Em nota, a Prefeitura de Belém disse que a árvore foi retirada pela construtora para prevenir danos futuros na área. De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), o vegetal foi plantado de maneira inadequada.
A prefeitura disse, ainda, que um laudo técnico, solicitado pelo MPPA e referendado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente, apontou que a última opção seria pela retirada do vegetal. “(…) as residências do local iriam sofrer com o crescimento da raiz do vegetal e com a queda de galhos, além das calçadas que também seriam quebradas”, afirmou.
Empresa terá de fazer plantios na cidade
Após a derrubada, a Prefeitura informou que, para compensar o município, a empresa proprietária terá de plantar 53 árvores, sendo três samaumeiras no Portal da Amazônia e outras 50 espécies que fazem parte do paisagismo da cidade. Em nota, a Semma disse que a derrubada só é feita em último caso e após avaliação técnica de profissionais.
A alegação de que a samaumeira precisava ser derrubada não se sustenta e revela apenas o caráter predatório da Construtora Village, pois em outros locais da cidade onde existe esta espécie de árvore, a existência de prédio no local não elide a harmonia com a natureza e o paisagismo.
A pergunta é: você compraria um apartamento de uma empresa que parece ter ódio de árvores? Do Ver-o-Fato com informações do G1 Pará.
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