Num relato ao mesmo tempo inusitado e bizarro, durante diálogo com um assaltante, durante a madrugada de ontem, 24, em uma avenida do bairro do Marco, em Belém, leitor do Ver-o-Fato diz como ter o carro de volta, um Gol 2009, roubado por dois bandidos armados em um sinal de trânsito. A estratégia funcionou, mas a possibilidade de dar certo com outra vítima é muito difícil, quase impossível. Acompanhe o relato. A identidade do pequeno empresário não será revelada, a pedido dele. Ele também preferiu não registrar o BO do roubo. Leia:
” Trabalho com bebidas e cuido de um barzinho com um sócio, sou da área de eventos, que passa um perrengue desgraçado. Estamos no lockdown em toda a nossa Região Metropolitana de Belém e impedidos de trabalhar. Vocês, que também estão sofrendo com essas medidas, apesar do auxílio emergencial que o governo do sr. Helder está pagando , que é bem-vindo, devem imaginar o que é cuidar de doentes com a Covid-19, buscar leitos, não ter e se desesperar.
Era por volta de 1h20 da madrugada quando retornei do PSM do Guamá, onde depois de uma batalha, apelando pra deus e o mundo, consegui internar um tio que veio do interior e tá mal, mas pelo menos agora tá recebendo atendimento e tomando remédios. Retornava para casa muito cansado e estressado, quando parei meu Golzinho no sinal da Almirante com a UEPA. Rua totalmente deserta. Não prestei atenção e baixei a cabeça no volante enquanto aguardava o sinal abrir.
De repente, ouço um baque na porta direita do meu lado e quando olho enxergo um cara armado, enquanto outro corre pelo lado direito, também armado, e já vai abrindo a porta que não tava travada. “Perdeu, sai, sai, caralho”, grita o da direita. O outro já aproveita e se aboleta no banco traseiro. “Sal, sal, rasga senão tem sal”, grita o bandido. Nervoso, não digo nada. O outro pede meu celular e entrego. Desço com as mãos pra cima e ele arrancam e somem.
Moro em uma passagem próximo da Mário Covas e o carro tava na reserva, eu tinha colocado R$ 18. Mas tenho um segundo celular, que o bandidos não sabiam, porque não me revistaram. Guardo em um bolso falso no jeans que uso, porque já fui assaltado duas vezes. Fiquei desolado, sentado na calçada, pensando o que fazer. Passaram duas viaturas da PM, uma delas com sirene ligada. Deviam estar atrás de bandidos. Admiro esses caras da PM, eles não dormem defendendo a sociedade e arriscando suas vidas.
Me ocorreu uma ideia. Se eu ligasse pro meu próprio celular e o bandido atendesse? Será que eu teria alguma chance, pensei. E agi. Duas vezes. O bandido não atendeu. Na terceira, ele disse “alô, alô, porra”. Fui direto, com voz suave, quase implorando. “Doutor, devolva meu carro, preciso muito dele, por favor”. Ele respondeu: “doutor, é? Tu me chama de doutor, é, seu fudido? Taí, gostei. Só me chamam de bandido, meu padrasto e a polícia”.
Encorajado com aquelas palavras do assaltante, repeti: “pra mim todos são doutores, sou educado. Se o senhor é bandido, então é doutor bandido”. Dava pra ouvir o outro assaltante, já furioso com aquele papo furado, reclamar do comparsa: “porra, filho da puta, desliga esse caralho, vai sujar pra nós”. O outro, também sob palavrões, disse que ia resolver a minha parada porque já tinham assaltado duas pessoas e estavam com dinheiro pra “tomar umas”.
E aí, pra minha surpresa, ele falou que eu pegasse o carro três ruas atrás do Shopping Castanheira. Deu todas as coordenadas e falou que o carro estava na frente de uma igreja evangélica. Mas me chamou de pilantra, miserável, que deixou o carro com gasolina na reserva. Eu agradeci e disse que tava indo pegar, ia demorar, mas eu chegava. Ele ficou em silêncio e desligou. Liguei pra um primo e fomos juntos pegar o carro.
A chave tava no contato, eles não levaram nada porque não tinha pra levar, até o pneu tá careca. Porém o bandido que tava no banco da frente, querendo se vingar de mim, fez uma sujeira terrível no banco. Ele cagou e nunca vi tanta merda na minha vida. Não dava pra suportar tanto fedor, mas tinha que chegar em casa e a gasolina não ia dar até a Mário Covas. Parei num posto da BR e quando me primo tava pagando o absstaimento, apareceu um viatura da PM e três soldados perguntaram o que eu tava fazendo, pedindo documentos nossos, etc.
Contei a eles o que tinha acontecido, mas ao examinar o carro fiaram enojados ao ver a bosta do bandido no banco. Mandaram que eu fosse embora e saíram rindo. Claro que aquilo era tão nojento que dava pra rir mesmo. Eu tava puto, mas fazer o quê? Em casa, minha mulher, disse que eu, pra completar aquela noite, devia tomar um banho de mijo, após limpar a merda deixada no carro pelo bandido.
Bandido, doutor, ladrão e cagão.”
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