Carlos Mendes – jornalista e editor do Ver-o-Fato
O belemense adora falar mal de Belém. Isto é um fato. Pior: o belemense adora maltratar Belém. Isto também é outro fato. Mas no fundo, lá no fundão mesmo, o belemense ama Belém. Eu, por exemplo, não troco esta cidade de 404 anos por nada. Amá-la, até mesmo na divergência do embate político, é fundamental para que se queira para ela sempre o melhor.
Um mergulho na rica história, desde que aqui aportou seu descobridor, o português Francisco Caldeira Castelo Branco, em 1616, passando pela bravura indômita do cacique tupinambá Guaimiaba, o “Cabelo de Velha”, em 1619, quando liderou o movimento contra os colonizadores, por quem foi morto, até chegar aos combates ferozes da Cabanagem nas ruas da cidade, entre 1835 e 1840 – sem esquecer das guerras políticas entre lauristas e lemistas, no final do século 19 e primeiras décadas do século 20, perpassando depois o baratismo e o regime de 1964 – me faz dizer que Belém deve ser amada, porque seu povo resistiu a tudo e a todos.
E quem não ama Belém? Quando viajo para fora do estado, me divirto, conheço pessoas e paisagens novas. No entanto, chega uma hora em que bate uma saudade danada de Belém. Na volta, com o avião sobrevoando a cidade para pousar, a sensação é de que a saudade ficou para trás. Meu espírito se acalma.
Não é só o vínculo familiar, as raízes físicas e emocionais, os amigos – pouquíssimos, aliás, mas leais e diletos – que me prendem aqui. É algo que busco entender e não consigo. Já encontrei e sempre encontro moradores desta cidade que me dizem a mesma coisa. O que me faz ficar, quando quero partir, ou o que me faz querer voltar, quando estou longe?
Sinceramente, não sei definir. Tenho, porém, uma tese ontológica, quem sabe geológica, ou física, na tentativa de explicar o inexplicável: debaixo do solo de Belém estaria enterrado um enorme imã. Nada de cobra grande, como diz a lenda. É imã, mesmo, enterrado de ponta a ponta dos mais de 800 km quadrados desta cidade sedutora e acolhedora.
Realmente, talvez a explicação para essa sedução esquizofrênica por Belém, esse amor que gera sofrência – mesmo quando a cidade é castigada por lixo nas ruas, trânsito caótico, calçadas assassinas, alagamentos, etc – e também a alegria de estar e viver aqui, esteja no magnetismo, nas leis da física. .
Um ímã é definido como um objeto capaz de provocar um campo magnético à sua volta. É isto. Descobri. Pode não ser uma descoberta científica. Ao menos, porém, é emocional. O que já me basta.
Afinal, a emoção – mais do que a razão – também atrai. Claro que nesse imã emocional que me faz amar Belém, a atração é infinitamente maior do que a repulsão.
Como é bom amar Belém.
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