O Sindicato dos Químicos de Barcarena publicou manifesto nas redes sociais, demonstrando indignação com a atitude da empresa mineradora multinacional norueguesa Norsk Hydro, que quer obrigar um casal de idosos a sair da casa em que moram uma grande parte da vida. O cidadão, um homem de 73 anos, trabalhou muitos anos para a Albrás e agora está com câncer.
A empresa se diz proprietária da casa, construída com verbas do governo federal, em Vila dos Cabanos, em Barcarena, durante a implantação do complexo industrial local. Quando a Hydro incorporou a indústria de alumínio Albrás/Alunorte, começou a pressionar os moradores antigos a desocuparem as residências, inclusive com ações na justiça local.
A multinacional deveria executar o despejo do casal de velhinhos na semana passada, após conseguir um mandado da justiça, mas voltou atrás diante da grande repercussão do fato. Agora, quer que o casal pague um alto valor pelo imóvel, depois que os idosos fizeram muitas melhorias na casa durante os anos que moram lá. O prazo dado é de 30 dias.
“Vamos articular um amplo debate sobre o mercado especulativo de terras e imóveis em Barcarena, especialmente promovido por uma empresa do porte da Hydro, que não tem como atividade principal a compra e venda de casas”, afirma o manifesto do Sindquímicos.
Sob o título “Hydro e a encruzilhada da indignidade”, o Sindicato dos Químicos de Barcarena denuncia que o casal está sob o cruel dilema de pagar a casa ou continuar o tratamento do ex-funcionário. Leia o manifesto na íntegra:
Hydro e a encruzilhada da indignidade
“Ou compra o imóvel em que viveram décadas ou mantém o tratamento de câncer – em resumo esse foi o ultimato de uma das maiores empresas do mundo a casal de idosos em Vila dos Cabanos/Barcarena-PA.
Dada a repercussão vergonhosa da ação de uma das maiores empresas da cadeia produtiva do alumínio do mundo, em promover, através da Albrás Hydro, um conjunto de ações de despejo de famílias, em plena maior pandemia de nossa geração, entre as quais a desonrosa ameaça de expulsão de casais de aposentados em situação de tratamento de câncer em fase terminal, a empresa resolve suspender o mandado judicial de despejo, e impor à família o prazo de 30 dias para a compra de imóveis em valores abusivos.
Resumindo em miúdos, ampliaram o sofrimento da família, que não tem condições de levantar os valores irreais do imóvel em tão pouco tempo. A Hydro propõe o valor de R$ 68.000,00, mais R$ 7.000,00 de custas de transferência, totalizando R$ 75.000,00. Uma verdadeira encruzilhada: ou levanta o dinheiro para comprar a casa ou mantém o tratamento de câncer? Ou seja, não tem saída! Como uma empresa do porte da Hydro se permite entrar em uma dessas?!
O casal de idosos já vive com a família no imóvel há pelo menos 23 anos, ao longo dos quais vem realizando melhorias no imóvel, que a empresa não reconhece. Outra desconsideração é que se trata de um ex-trabalhador da empresa em situação extremamente delicada, que deu parte de sua vida à empresa. Eles poderiam é doar o imóvel para a família, em sinal de sensibilidade e agradecimento de mais de duas décadas prestados á empresa.
A advogada da família propôs o pagamento da metade do valor proposto, apelando para as condições de saúde do casal de idosos e os custos do tratamento da doença, assim como os investimentos de melhoria realizado ao longo dos 23 anos, mas os intermediários se mostram irredutíveis, não enxergam pessoas em situação de serem ajudadas, enxergam apenas cifras. Sequer o valor da transferência eles querem tirar.
É necessário que a prefeitura municipal de Barcarena se posicione sobre o caso, uma vez que não se trata de uma prática isolada. Não podemos permitir que valha o jogo especulativo sobre o interesse social da terra e da casa, a Lei Federal do Estatuto da Cidade e o Plano Diretor do Município deve coibir esse tipo de prática que trata um direito social básico como uma mercadoria, especialmente, em meio a uma das maiores crises sanitárias de todos os tempos.
Vamos seguir acompanhado de perto o caso. E vamos articular um amplo debate sobre o mercado especulativo de terras e imóveis em Barcarena, especialmente promovido por uma empresa do porte da Hydro, que não tem como atividade principal a compra e venda de casas. Sindicato dos Químicos de Barcarena”.
Manifestação da Albrás
O grupo empresarial a qual pertence a Norsk Hydro foi procurado pelo Ver-o-Fato para manifestação sobre a denúncia e protesto do Sindicato dos Químicos de Barcarena. Por meio de nota, a resposta é a seguinte:
” A Albrás informa que possui propriedades na Vila dos Cabanos que são utilizadas por empregados próprios e da Alunorte. A locação e utilização das mesmas está vinculada ao contrato de trabalho.
Sobre o caso mencionado, a empresa informa que está em diálogo com as partes e seus advogados para um acordo consensual que inclui desoneração da dívida acumulada reconhecida por decisão judicial. “
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