Depois de um hiato de dois anos, Rick e Morty retorna com a sua quarta temporada e o episódio de estreia já vem para nos dizer que a qualidade da série não caiu e está mais escatológica do que nunca. O título do episódio “Edge of Tomorty: Rick Die Rickpeat” faz alusão ao filme Edge of Tomorrow (2014) que foi traduzido por aqui como No Limite do Amanhã, que também tinha o título alternativo de Live Die Repeat.
O episódio gira em torno de uns cristais da morte que permitirem a quem os toca ver de que forma irá morrer, sendo que, a conclusão fatídica muda constantemente como resultado das diferentes escolhas que uma pessoa faz ao longo da vida. No caleidoscópio de possibilidades apresentado pelos cristais, em uma delas, Morty se vê idoso morrendo nos braços de Jessica. Logo, o personagem decide usar o cristal como uma bussola a fim de garantir que esse futuro se realize, o que acaba por acidentalmente resultar em (mais) uma chocante morte de Rick.
Eis que um holograma de Rick surge para orientar Morty de como pode ressuscitá-lo na pele de um de seus clones, mas como essa escolha afasta Morty de seu futuro com Jessica, ele decide por manter Rick morto. O episódio segue mostrando Rick ressuscitando em clones-reservas em uma variedade de realidades alternativas e Morty levando às últimas consequências os caminhos para a morte que ele escolheu.
Em todas as realidades alternativas por onde Rick transita entre suas mortes, se mostram como distopias fascistas: Na primeira realidade, Morty fascista mata a sangue frio seu Rick porque ele era muito político e “é preciso trazer de volta as clássicas aventuras de Rick e Morty”. Essa é uma clara resposta a toda polêmica envolvendo os fãs mais radicais da série, que assediaram em 2017, através de redes sociais como o twitter algumas roteiristas, o que se torna ainda mais cretino, além da misoginia envolvida, é que um dos mais icônicos episódios da série “Pickle Rick“ foi escrito pela roteirista Jessica Gao uma das vítimas do grupo doentio de fãs.
A serie então mostra as realidades alternativas contaminadas por distopias fascistas nas suas mais variadas formas, sendo que, ironicamente, Rick consegue ajuda em uma realidade onde todos em sua família são vespas, vespa em inglês é WASP, que nos EUA é um acrônimo que significa “Branco, Anglo-Saxão e Protestante” (White, Anglo-Saxon and Protestant). A cena repete o café da família que abriu o episódio, só que agora todos são vespas e as relações entre eles é de completa harmonia. Em certo momento, o Rick Vespa comenta “nós somos vespas, não monstros”, para logo em seguida, a família devorar o professor de matemática de Morty que, transformado em uma grande larva, alimenta aos gritos toda a família.
Desde a primeira temporada, o amor de Morty por Jessica o levava por caminhos destrutivos, como no famigerado episódio “A poção do Rick”, que mostrava as frustrações e carências de Morty. Entre uma piada e outra, esses momentos revelam a profunda humanidade da série e falam como nenhum outro programa das dores que acompanham cada personagem, como a juíza que liberta Morty por que ele recitou as últimas palavras de seu falecido marido.
O episódio transita bem entre revisitar antigas ideias, como ver o Rick nos mais variados tipos de corpos (Camarão, Urso de Pelúcia, Vespa), personagens antigos retornam (Meeseeks, Revolio Clockberg Jr) e claro, o monólogo maluco que encerra todos os primeiros episódios de cada temporada, aqui devidamente interrompido por Summer, funcionando novamente como uma provocação à parte intolerante de um público, que parece não perceber toda a dimensão que uma das maiores series da década tem a dizer.
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