Durante a Segunda Guerra Mundial, quando submarinos alemães do regime nazista de Adolf Hitler ameaçavam a costa brasileira, o Santa Cruz Futebol Clube, tricampeão pernambucano, decidiu embarcar em uma excursão histórica ao Norte do Brasil. Em janeiro de 1943, o time deixou o Recife em um navio, com a companhia da Marinha de Guerra, iniciando o que ficou conhecido como a “excursão suicida”.
Quatro meses de viagem levaram a equipe a seis capitais brasileiras, incluindo Belém e Manaus, com um saldo de 26 partidas disputadas. No entanto, a jornada, inicialmente motivada pela busca de vitórias e pela popularização do futebol pernambucano no Norte, foi marcada por tragédias.
O caso está viralizando novamente nas redes sociais após publicação de Daniel Braune – atualmente o maior influencer de jornalismo esportivo na Web – relembrar a história publicada no portal Globo Esporte.
O Santa Cruz encontrou seus primeiros grandes desafios logo no Pará, onde enfrentou três dos maiores clubes locais: Tuna Luso, Remo e Paysandu, gigantes do futebol paraense e protagonistas de rivalidades históricas que já movimentavam os corações de torcedores na região.
A primeira vitória veio sobre a Tuna Luso, por 3 a 1, numa atuação que encantou a torcida local, mas a saúde dos jogadores logo começou a ser afetada. Diante do Remo, o time pernambucano sofreu uma dura derrota por 5 a 2, devido à intoxicação de vários atletas. Em um novo confronto, dessa vez contra o Paysandu, o Santa Cruz voltou a tropeçar, empatando por 4 a 4 em um jogo dramático.
A presença de Remo, Tuna Luso e Paysandu na história dessa excursão destaca a importância desses clubes na época e sua participação no cenário do futebol nacional. A Tuna Luso, tradicional clube do Pará, foi o primeiro adversário dos pernambucanos na região, sendo um time de respeito que colaborou para a aclamação inicial do Santa Cruz na região.
O Remo, por sua vez, com uma vitória marcante, revelou a fragilidade da equipe do Santa Cruz, que começava a enfrentar problemas de saúde e esgotamento físico. Já o Paysandu, com quem o Santa empatou em um jogo cercado de dificuldades e tensão, provou que a viagem ao Norte era, de fato, uma missão desafiadora e perigosa, tanto no campo quanto fora dele.
No decorrer da excursão, as tragédias se agravaram quando dois jogadores do Santa Cruz, o goleiro King e o atacante Papeira, faleceram após contrair febre tifóide, tornando o retorno do time ao Recife ainda mais difícil. O Santa Cruz enfrentou novamente o Remo e venceu por 4 a 2, mas a alegria durou pouco, pois King, internado, faleceu logo depois.
Três dias mais tarde, em um novo confronto com o Paysandu, Papeira também morreu, e o luto tomou conta do elenco.
Em meio a essas tragédias, a excursão continuou por Belém, e os clubes paraenses voltaram a cruzar o caminho do Santa Cruz. Em um amistoso para angariar fundos, Remo e Paysandu uniram forças em um combinado de jogadores, reforçando a solidariedade para ajudar as famílias dos jogadores falecidos.
Entretanto, a renda da partida foi baixa, simbolizando o fim do entusiasmo inicial que a presença do Santa Cruz havia gerado.
Mesmo com os obstáculos, a excursão pelo Norte deixou marcas profundas na história do Santa Cruz e no futebol paraense. A Tuna Luso, Remo e Paysandu mostraram sua força e contribuíram para essa narrativa de superação, tragédia e resistência.
Esse episódio reafirma a importância desses clubes na formação da identidade futebolística do Pará e como protagonistas em eventos que transcenderam o esporte, conectando o Norte e o Nordeste em um momento crítico da história mundial.
Ao final da longa e desgastante jornada, o Santa Cruz retornou ao Recife. A aventura, porém, mostrou-se uma mistura de glórias e dores, com vitórias dentro de campo e perdas irreparáveis fora dele.