Segundo investigadores, delegado viajava de carro do Rio a São Paulo para colocar ouro no interior de aviões que iam para o exterior partindo do aeroporto de Guarulhos. Outro policial investigado não teve a prisão decretada. Ambos são investigados por suspeita de agir junto à uma quadrilha responsável por contrabando por ouro para o exterior.
O esquema foi descoberto pela PF e resultou na operação Ruta 79, deflagrada em meados desta semana, no Rio e em São Paulo. O ouro bruto é retirado de forma ilegal da Amazônia e vendido para joalherias da Itália. A Polícia Federal calcula que a quadrilha tenha contrabandeado uma tonelada de ouro entre 2017 e 2019.
A PF aponta que os integrantes da quadrilha fazem uso de ‘mulas’ que transportam o ouro até a Itália usando documentação ideologicamente falsa de empresas fictícias sediadas no Paraguai. Em seguida, o grupo criminoso traz joias adquiridas na Ásia e EUA, também utilizando ‘mulas’ para introduzi-las de forma clandestina no Brasil, explicam ainda os investigadores.
O Ministério Público Federal, em um estudo feito com a Universidade Federal de Minas Gerais, estima que, entre 2019 e 2020, o garimpo ilegal retirou 49 toneladas de ouro da Amazônia o que movimentou R$ 5 bilhões. O prejuízo sócio ambiental chegou a quase R$ 10 bilhões.
Segundo investigações, o grupo era chefiado pelo empresário Celso Faria e tinha entre um de seus principais operadores o delegado aposentado da PF Julio Cesar de Almeida. Os policiais cumpriram mandados expedidos pela 5ª Vara Federal Criminal. Além de Celso, foram presos Newton Prando Júnior, representante de uma empresa com sede em Ciudad del Este, no Paraguai, e Alessandra Capovilla Nicastro, sócia de uma empresa de comércio de joias.
O delegado aposentado Julio César de Almeida, conhecido como Julinho Nota Dez, está foragido. Identificado nas investigações, o outro polical da PF que teria participação no esquema não teve a prisão decretada pela Justiça. A polícia tentou cumprir o mandado de prisão do delegado em duas casas na Zona Oeste do Rio, mas ele não foi encontrado. Julio Cesar tinha sido preso em 2008, quando retirou uma mala com joias de dentro de um avião que vinha de Lisboa, em Portugal.
No processo, ganhou o direito de responder em liberdade. Quando a condenação saiu, ele ficou foragido. Agora, a Justiça emitiu um novo mandado de prisão também por contrabando internacional de ouro e joias. E Julinho continua foragido.
Viagens de carro
Segundo a investigação, o ex-delegado servia de ponte entre o ouro vindo de garimpos ilegais no Oiapoque, no Amapá, e contrabandistas internacionais. A Polícia Federal descobriu que o ex-delegado fazia viagens de carro constantes do Rio para São Paulo. No Aeroporto Internacional de Guarulhos, o ex-delegado entregaria a mercadoria para um agente da PF que também participava do esquema.
Esse agente conseguia entrar na área restrita do aeroporto sem passar pelo raio-X e lá repassava o ouro para outros transportadores dentro do banheiro. Um deles, era Gilberto Russo, preso em setembro de 2019, com 17 quilos de ouro em um embarque para a Itália.
Em outro momento da investigação, a Polícia Federal apreendeu 16 quilos de joias em um desembarque vindo do Panamá. Segundo a Polícia Federal, o grupo liderado por Celso de Faria movimentava em torno de 500 quilos de outro por ano ou cerca de R$ 150 milhões. O esquema mantinha relações comerciais com empresas dos Estados Unidos, da Itália e de Singapura.
O empresário foi preso na terça-feira (27). No apartamento dele, foram apreendidos cerca de R$ 200 mil em dinheiro. Segundo as investigações, Celso Faria está por trás de diversas empresas ligadas ao mercado de joias, incluindo duas fábricas. Em uma delas, em São José do Rio Preto, a polícia apreendeu um pequeno arsenal dentro de um cofre: pistolas, um revólver, uma espingarda e três fuzis ainda com caixa e munições.