Para o ex-ministro da Defesa, a Alemanha quer impor à Amazônia uma pauta ambiental que nem os próprios alemães conseguem cumprir.
O ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo criticou, nesta segunda-feira (30), durante o programa Meio-Dia em Brasília, a agenda ambiental que ele considera imposta à Amazônia pelos países ricos. Para Rebelo, essa agenda impede o desenvolvimento da região. Ao comentar a visita do chanceler alemão, Olaf Scholz, ao Brasil, o ex-ministro apontou uma “armadilha diplomática” na ideia de que a proteção ambiental conflita com o desenvolvimento econômico.
“Nós fomos cedendo e, pouco a pouco, o Brasil aceitou a questão do meio-ambiente sem o direito ao desenvolvimento, o que nos coloca em uma armadilha aqui, na Amazônia, onde você tem 23 milhões de brasileiros, mais do que a população do Paraguai e Uruguai somadas, sem perspectivas”, disse.
O ex-ministro do governo Dilma Rousseff pontuou ainda que a Alemanha tem interesses próprios no que diz respeito à região, mas que os alemães fazem exigências ambientais ao Brasil que nem eles próprios conseguem cumprir.
“É preciso que os interesses do Brasil também sejam considerados. (…) Eles querem usar o pior combustível fóssil, que é o carvão, e querem aqui fazer exigências ambientais que eles não têm correspondência no próprio país”, criticou.
O drama de 23 milhões de amazônidas
“O Brasil precisa explicar a Amazônia, em primeiro lugar, para o próprio Brasil, principalmente do Sul e do Sudeste, que só conhecem a Amazônia por narrativas unilaterais e interesseiras. E também explicar a Amazônia para o mundo, porque a agenda da Amazônia foi reduzida a dois itens: desmatamento e queimada. A sociedade na Amazônia, o drama dos indígenas, o drama dos ribeirinhos, a sobrevivência de 23 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, os 600 mil estudantes universitários,, os 300 mil estudantes de escolas técnicas. Qual o futuro dessas pessoas?”, questiona Aldo Rebelo.
Ele também fala sobre a fronteira mineral na Amazônia, a biodiversidade, seus recursos naturais e afirma que “ninguém discute essa temática”. Para Rebelo, os alemães tem seus “interesse próprios, principalmente os políticos” sobre a Amazônia, lembrando que a multinacional alemã Siemens, por exemplo, está presente no Brasil há mais de 150 anos, ou seja, é mais velha do que a própria República.
Os alemães que falam em combater o desmatamento e queimadas na Amazônia, alfineta o ex-ministro da Defesa do governo Dilma, são os mesmos que aumentaram o uso do “pior combustível fóssil, que é o carvão, mas agora querem fazer exigências ambientais ao Brasil que eles não têm correspondência em seu próprio país”.
Perguntado durante a entrevista se o governo Lula vai ceder aos interesses alemães sobre a Amazônia, Aldo Rebelo repetiu que o Brasil caiu numa armadilha diplomática imposta pela nações mais ricas do mundo, que é separar temas que não deveriam ser separados quando se fala de Brasil e de Amazônia, que é desenvolvimento e meio ambiente.
“Você não pode discutir um sem o outro. O Brasil conseguiu fazer isso uma única vez, em 1972, na primeira conferência de meio ambiente, realizada em Estocolmo, quando os países ricos queriam só discutir meio ambiente e o nosso embaixador, Araújo Castro, que tinha sido ministro das Relações Exteriores do presidente João Goulart, mas que foi preservado pelos militares e virou embaixador na ONU e depois chefiou a nossa delegação nessa conferência, ele “não, o Brasil não vai discutir somente meio ambiente, porque o que vocês querem é o congelamento do poder mundial “.
O embaixador Araújo Castro dizia que esse congelamento do poder mundial era utilizar os recursos naturais disponíveis no planeta para quem já era desenvolvido em nome da proteção ao meio ambiente e vedar o acesso ao desenvolvimento aos países detentores desses recursos naturais, como a Amazônia.O Brasil, na época, não aceitou isso, mas depois, segundo Rebelo, “nós fomos cedendo e pouco a pouco o Brasil aceitou que a questão do meio ambiente fosse discutida sem o direito ao desenvolvimento”,
Ainda de acordo com o ex-ministro do governo petista, isso nos coloca numa armadilha na Amazônia, “onde você tem 23 milhões de brasileiros sem perspectivas, porque foi vai fazer o quê? Formar estudantes de engenharia, de agronomia, de veterinária, nas universidades da Amazônia para fazer o quê? Pra depois trabalhar abraçado numa castanheira? Se não tiver desenvolvimento não tem futuro para essa juventude. Ela vai ter que terminar um curso universitário, pedir uma passagem para o pai ou a mãe e ir embora da Amazônia, porque na Amazônia não temos a perspectiva do desenvolvimento, porque a agenda não permite”.
Vale a pena ler, refletir e divulgar a entrevista completa de Aldo Rebelo. (Do Ver-o-Fato, com informações de O Antagonista)
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