Os dados mais recentes registrados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam que entre 1/8/19 a 31/7/20 foram desmatados 11.088 mil quilômetros quadrados de floresta na Amazônia Legal. É equivalente a 9,5% a mais em relação ao período anterior (2018/2019) – quando o chamado corte raso ceifou 10.129 km2 e um novo recorde para a última década.
É o Brasil dando as costas ao século XXI, tanto na defesa quanto a um aproveitamento harmonioso e lúcido das riquezas imensas e cobiçadas da Grande Floresta.
Nas últimas colunas VIDA dedicadas a Amazônia denunciamos a origem desse mal na velha Europa – geradoras de atrocidades contra a América do Sul, suas antigas civilizações e a Natureza em geral.
Vemos agora os gritos de alerta passados ecoando no presente – inutilmente? Que fôlego ainda tem a mesma Europa, que já vem gritando alertas contra a destruição do meio ambiente, em seu próprio continente, pelo menos desde a Idade Média – mas não cessou sua autodestruição? Aprendeu com suas horrendas experiências? Ou é ainda a mesma Europa – contra as forças econômicas e política do saque e a farsa – que agora se declara dispostas a proteger a Amazônia.
As lições foram duras demais, e teriam sido mais do que suficientes para que os nossos atuais arautos defensores não tenham aprendido algo.
Retornemos a Londres, como exemplo da destruição do meio ambiente nas grandes cidades europeias – ela, que foi centro irradiador da Revolução Industrial com suas chaminés poluidores e sua exploração do trabalho humano e infantil.
Mas faça um exercício de imaginação, simples: Imagine a Londres de ontem como a Amazônia de amanhã. E lutemos para que o cenário que será descrito não venha a ser uma antecipação dos imensos riscos de degradação que ameaçam a Amazônia.
Na época das denúncias que se seguirão, aqui, o combustível fóssil mais usado era o carvão.
Esse carvão que era queimado então – pelo início do período moderno – era muito mais nocivo do que o usado atualmente (e cujas indústrias Trump financiou nos Estados Unidos da América), porque continha o dobro de enxofre. Letais: é a palavra exata para os seus efeitos.
Descrição de historiadores da época retratam assim o cenário: – A fumaça escurecia o ar, sujava as roupas, acabava com as cortinas, matava flores e árvores, corroía a estrutura dos prédios. Nem estátuas escapavam. Por meados do século XVIII as estátuas londrinas – até as de alguns dos reis Stuart – estavam tão negras que pareciam limpadores de chaminés.
Outro desses historiadores, Timothy Nourse, acrescentava tintas mais obscuras à paisagem: Interminável, dizia ele, seria avaliar todos os danos que as casas sofriam por sua ação, e não apenas por fora: em sua mobília, nos utensílios mesmo de prata, bronze e estanho, nos objetos de vidro. Até as camas de luxo dos ricos deviam ser jogadas no lixo de tão manchadas de fumaça.
E eis uma cena das ruas londrinas – e o mesmo ocorria nas outras grandes cidades europeias: A grande quantidade de carroças de pó-de-carvão atravessando a cidade nunca para de espalhar, generosamente, a sua preciosa carga nas ruas, E, por isso, que também os rostos dos homens e mulheres, se não se lavarem e pintarem, constantemente, logo ficam escuros de fuligem.
E quanto às crianças?
A sujeira não poupava ninguém. E a do ar era o mesmo que as sujeiras nas ruas, com crianças convivendo com lixo e poluição.
A cena se alterava, para ainda pior ou um pouco menos pior, conforme as Estações do ano: No verão as nuvens de poeira levantadas pelas rodas do tráfego sufocavam os passantes e tornavam difícil andar com os olhos abertos.
As pessoas às vezes vagavam como cegos, tateando diante de si.
Mas não era só o carvão.
Os documentos da época prosseguem descrevendo esse palco de horrores em que a ignorância e a ambição humana convertiam as cidades europeias em cenário de fim de mundo.
Cegas ou embriagadas, as pessoas também sofriam os efeitos nocivos dos gases e detritos gerados com a fermentação da cerveja, a tintura de roupas, a fabricação de goma e de tijolos, e todas as outras indústrias instaladas no meio da cidade.
Ainda leis foram baixadas, para conter ou amenizar o crescente caos. Mas que força tiveram?
Desde o reinado de Ricardo II foram baixadas leis, de maneira intermitente, contra a poluição do rio Tamisa, e no começo do século XVII registram-se muitos conflitos a propósito dos efeitos nocivos da indústria urbana.
Outro que tentou foi o rei Jaime l, lançando vários éditos/proclamações contra a poluição causada pelos fabricantes de goma londrinos.
Um grito de terror partiu de St. Botolph’s, Aldgate, com seus habitantes, já em 1627, denunciando que estavam sendo envenenados pelos vapores da fábrica de alúmen em St. Katherine’s, enquanto, apesar dos éditos reais, matavam os peixes no Tamisa.
Enfim, em 1657, aconteceu um debate parlamentar sobre o cheiro exalado pelas fornalhas de tijolos londrinas. O duque de Chandos, residindo em sua casa em Cavendish Square, viu-se, conforme alardeou: Envenenado pelas fornalhas de tijolos e outros odores abomináveis que infectam estas partes.
E veio a superpopulação – que afogou Londres em insalubridade, como outras cidades estavam em situação quase igual.
Algumas gotas mais desse veneno no passado da Europa, para terminar:
Em 1608, os visitantes de Sheffield sabiam que ficariam “meio sufocados com a fumaça da cidade”, ao passo que em 1725 um viajante a Newcastle descobriu que “as nuvens de fumaça perpétuas pairando no ar faziam tudo parecer tão negro como em Londres”. E até em Oxford, o ar era tão ruim que um antiquário setecentista considerava que os Mármores de Arundel tinham “sofrido mais em setenta ou oitenta anos ali que em talvez 2 mil anos nos países de onde foram trazidos”.
Em resumo: – Inevitavelmente, havia mais peste nas cidades que no campo, e um nível mais alto de mortalidade.
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