Uma operação da Polícia Civil do Pará, deflagrada na manhã de ontem 9, abalou profundamente a comunidade de Marabá, no sudeste do Pará. Agentes da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, à Criança e ao Adolescente (DEACA) cumpriram dois mandados de busca e apreensão em um imóvel e em um comércio localizados no complexo Cidade Nova. A ação faz parte de uma investigação sobre um crime de estupro de vulnerável, envolvendo uma menina de apenas três anos de idade.
Os alvos da operação são um homem e sua mãe — ainda não presos —, sobre os quais pairam graves suspeitas de envolvimento direto ou indireto nos abusos. O Correio de Carajás, que teve acesso às informações, optou por não divulgar os nomes dos investigados, para evitar a exposição da vítima, que é filha da mulher investigada.
A investigação começou após uma denúncia anônima, que chegou à DEACA com relatos e provas de extrema gravidade. O denunciante informou que a mulher estaria explorando sexualmente a própria filha, e encaminhou vídeos e imagens mostrando uma criança sendo abusada — material que a polícia confirmou ser de grande impacto emocional.
Embora o rosto da vítima não aparecesse, a análise dos arquivos indicou que o conteúdo era compartilhado a partir de um número de telefone registrado em nome da mãe da menina.
Durante as diligências, os agentes descobriram que o filho da mulher — que mora com ela — já possuía antecedentes por violência doméstica. Um dos detalhes que chamou atenção da equipe foi a possibilidade de o verdadeiro autor dos abusos ser um homem se passando por mulher nas redes sociais, o que redirecionou o foco da investigação para ele.
Mais investigações
Outro indício decisivo foi a identificação do comércio da família, uma pequena mercearia, como cenário em parte do material analisado. As investigações confirmaram que o local pertence aos dois investigados e também serve como residência.
Diante dos fortes indícios de crime, a DEACA solicitou à Justiça mandados de busca e apreensão. Paralelamente, o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) recebeu novas denúncias, que reforçaram a gravidade do caso e apontaram também a mãe como possível autora dos abusos. Com isso, dois mandados judiciais foram expedidos e cumpridos simultaneamente na manhã desta quinta-feira.
Durante a ação, os policiais apreenderam dois celulares, que agora passarão por perícia técnica. A expectativa é que as análises dos dispositivos revelem novas provas digitais que permitam esclarecer definitivamente quem cometeu os crimes e de que forma a rede de exploração operava.
A Polícia Civil informou que as investigações continuam e que os suspeitos poderão responder por estupro de vulnerável, produção e compartilhamento de material de abuso sexual infantil, além de outros crimes correlatos.
Um alerta à sociedade
Casos como esse — ainda que difíceis de descrever — precisam ser expostos e enfrentados com firmeza. Eles nos lembram que o abuso sexual infantil não é apenas um crime hediondo, mas uma violação brutal da humanidade e da inocência. Nenhuma sociedade civilizada pode tolerar que uma criança, especialmente por alguém de dentro do próprio lar, seja transformada em vítima de tamanha crueldade.
É fundamental que denúncias anônimas sejam sempre incentivadas e acolhidas. Muitas vezes, são elas que quebram o silêncio e salvam vidas. A população deve compreender que denunciar é um ato de coragem e de cidadania, pois protege os mais vulneráveis e pressiona o sistema de justiça a agir com rigor.
O caso de Marabá revela, mais uma vez, a necessidade de educação, vigilância comunitária e apoio psicológico às famílias. A impunidade alimenta a violência — por isso, a resposta do Estado deve ser rápida e exemplar.
A sociedade paraense, como expressa nas reações de indignação e repúdio, não aceita mais calar diante desse tipo de horror. Cada passo da investigação deve servir não apenas para punir os responsáveis, mas também para reforçar uma lição fundamental: criança não é objeto, é vida, é futuro — e merece proteção integral.















