O racismo atua no consciente e no inconsciente, é estrutural, é escrachado, é velado, é no bairro de rico ou de pobre, na praia ou no centro, parece atemporal, indomesticável, incontestável e longe do fim. Já foi justificado pela ciência, pela religião, pela civilidade, pelo colonialismo, pelo determinismo, pela força bruta. Há algo de podre no reino da nossa engrenagem social.
Certa vez um professor, ainda no ensino fundamental, contou uma piada totalmente racista que fez todo mundo da sala gargalhar. Após o termino da aula, o gracejo continuou, mas a piada virou zoação e ofensa. E não paravam mais de usá-las. Bastava um passe errado no futebol para que fosse reutilizada. Aquilo foi ficando sério, começou a ser motivo de briga.
Um dos amigos que chegaram a ir para as vias de fato por conta das brincadeiras racistas – que à época nem tínhamos a noção de que era um problema de séculos – foi expulso do colégio, isso porque o que não aguentava mais ser motivo de chacota, levou uma faca pra escola. Por sorte descobriram antes de qualquer desfecho ainda pior. Mas da piada, o racismo se multiplicou como um vírus. O que não sabíamos é que o racismo se equivale a uma pandemia de séculos de existência.
Todo dia uma notícia diferente. A tecnologia tem ajudado a trazer tudo à tona, como os testes que revelam mais e mais infectados pelo corona. Mas virou algo tão sério que algumas pessoas aparentam ter orgulho de praticarem esse tipo de preconceito. Você certamente conhece ou conheceu alguém assim.
Pensar que pessoas como seu amigo, sua mãe, sua namorada, tia e etc, já passaram por coisas ainda piores no passado, me causa uma sensação de impotência ao perceber que parece longe do fim. Quem namora uma mulher negra certamente sente uma indignação enorme ao ver filmes como “12 anos de escravidão”.
Nos perguntamos como foi possível tudo aquilo acontecer. Superar o racismo é o (re)encontro com nossa melhor versão de sociedade. Nos resta educar nossa próxima geração para ser antirracista e, aí sim, quem sabe será o começo do fim desta violência.
Discussion about this post