Grandes institutos de pesquisa, como Ibope e Datafolha, fazem isso até com certa desfaçatez. Pior é que ninguém os questiona. Jornalistas experientes caem nessa ratoeira e danam-se a divagar a toda hora sobre números apresentados por esses e outros institutos sem que observem que essa manipulação remete para candidatos com mais chances na corrida eleitoral.
Ora, segundo turno, como demonstram inúmeros exemplos de viradas de candidatos que chegaram sem chances e acabaram por sair vitoriosos, é outra eleição, inclusive na equidade de tempo para campanha na televisão e no rádio.
As coligações se desfazem, as cúpulas dos partidos perdedores declaram quem apoiam – ordem nem sempre seguida pelos seus eleitores – ou liberam os simpatizantes para votar como bem entender. É nessa hora que a polarização se torna contundente e definitiva.
Para o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, em entrevista à revista Época desta semana, os levantamentos feitos com grande antecedência “estimulam o voto nos candidatos mais competitivos – e não necessariamente nos melhores”. Além disso, observa, o resultado da primeira pesquisa sobre o segundo turno, divulgada assim que acaba o primeiro, costuma ser diferente daquelas divulgadas até o primeiro turno.
“Quem arranca melhor no finalzinho do primeiro turno costuma sair na frente nas pesquisas do segundo. Isso ocorreu na eleição passada. Em 2014, Aécio Neves (PSDB) teve uma arrancada importante. Passou a Marina Silva (então PSB), chegou ao segundo turno e, na sequência, ficou na frente nas primeiras pesquisas”, explica Hidalgo.
Só que as simulações de segundo turno – feitas ainda no período do primeiro turno – apontavam Dilma Rousseff na frente. Dessa forma, entende o pesquisador, deveria haver restrições na divulgação de simulações de segundo turno. “Defendo que a primeira divulgação só ocorra a poucas horas da realização do primeiro turno”, diz ele.
Os candidatos usam as simulações de segundo para tentar conquistar o voto com base nessas projeções. Por que isso acontece? Hidalgo salienta que os candidatos lançam mão dessas pesquisas como instrumento de marketing para a campanha. Um determinado candidato tenta induzir o voto nele para eliminar os candidatos que talvez o eleitor não queira ver eleito. Vira uma eleição de exclusão. Dessa forma, a qualidade da candidatura fica em segundo plano.
Perguntado se acredita que a medição feita nas pesquisas sobre quem deverá ganhar a eleição também tem peso sobre o eleitor, Hidalgo respondeu que isso influencia no voto útil, assim como as simulações de segundo turno. “Infelizmente ainda há uma pequena parcela da população que vota em quem acha que ganhará as eleições.
Sobre quem ganhará as eleições presidenciais deste ano, ele disse que será aquele que tiver a menor rejeição. E citou o segundo turno de 2014. A rejeição a Dilma Rousseff era alta. Mas a do Aécio cresceu muito no segundo turno. Até o primeiro turno ele não era favorito.
“Falando dessas eleições, a rejeição a Jairo Bolsonaro (candidato do PSL) é grande. A rejeição a Fernando Haddad (PT) é menor. Mas a do Haddad crescerá com certeza. O fato de ele ser candidato há pouco tempo o poupou de uma rejeição maior”.
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